Os Estados Unidos planejam investir US$ 4 bilhões em projetos de veículos autônomos, num período de dez anos. O secretário de Transportes, Anthony Foxx, anunciou hoje em Detroit que a medida tem como objetivo acelerar o desenvolvimento e a adoção de automação segura de veículos em projetos-piloto do mundo real.
Esse é só o exemplo mais recente da política de inovação dos EUA. Quem acompanha os casos de sucesso das empresas do Vale do Silício pode achar que a posição de destaque do País no mercado de tecnologia se deve somente à iniciativa privada, com seus empreendedores e investidores de risco, mas isso é apenas parte da história.
Tecnologias importantes nasceram com o apoio do Estado, a começar pela internet, que teve origem na Arpanet, uma rede de comunicação de dados criada pelo Departamento de Defesa. Em seu livro O estado empreendedor (Companhia das Letras), a economista Mariana Mazzucato analisa casos americanos de incentivo do Estado à inovação.
Para Mazzucato, os EUA têm uma política desenvolvimentista oculta, já que os programas de incentivos são divididos entre diversos departamentos e agências governamentais.
Um exemplo do resultado dessa política é o Google, já que seu algoritmo de buscas foi criado quando Larry Page e Sergey Brin eram doutorandos em Stanford e trabalhavam num projeto de pesquisa financiado pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA (NSF, na sigla em inglês).
Mesmo a Apple deve muito a políticas públicas. Antes de abrir o capital, a empresa recebeu US$ 500 mil da Continental Illinois Venture Corp., fundo que participava do programa do governo americano de incentivo a pequenas empresas.
A assistente virtual Siri surgiu de um projeto financiado pelo Departamento de Defesa. A tecnologia de multitoque da FingerWorks, adquirida pela Apple em 2005, foi desenvolvida na Universidade de Delaware, com dinheiro da NSF e da CIA.
Carros autônomos
O plano de investir cerca de US$ 4 bilhões em carros autônomos consta da proposta de orçamento para o ano fiscal de 2017, enviada ao Congresso pelo presidente Barack Obama.
“Estamos no começo de uma nova era de tecnologia automotiva com potencial enorme de salvar vidas, reduzir emissões de gás de efeito estufa e transformar a mobilidade para o povo americano”, disse o Foxx. “As ações de hoje e aquelas que vamos tomar nos próximos meses vão criar o alicerce e o caminho futuro para fabricantes, funcionários públicos e consumidores usarem novas tecnologias e alcançarem todo seu potencial de segurança.”
O governo dos EUA acredita que os carros autônomos conseguirão eliminar 94% dos acidentes fatais causados por erro humano. Além de apoiar projetos, a proposta de Obama prevê a definição de um quadro regulatório multiestadual para carros autônomos e conectados.
Tão importante quanto o investimento é a criação de uma política nacional para o setor, para que a indústria não tenha de se submeter a legislações locais muitas vezes contraditórias.