Segundo recente pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 58% dos brasileiros acessam a internet exclusivamente pelo celular, 62% dos planos de telefonia móvel são pré-pagos, o número de pessoas que nunca se conectou está em 20% e a maioria não se conecta porque acha difícil usar computador.
O que esses dados têm a ver com desenvolvimento web?
Qual o significado e a mensagem que os dados oferecem para nós desenvolvedores de aplicações na rede?
Os dados mostram que o abismo que separa os brasileiros conectados dos não conectados vem diminuindo, mas existe grande número de pessoas que ainda não possui Internet em casa ou navega de forma precária.
Com base nos dados dessa pesquisa, resolvi elencar e explicar o impacto de alguns números com o desenvolvimento web.
Design responsivo e aplicações leves
O uso de telefone celular para acessar a Internet vem crescendo de forma muito rápida.
Em 2014, 76% de brasileiros conectados já acessavam a internet pelo celular.
Em 2019, este número passou para 99%.
Apesar da quantidade de usuários de internet que navega usando computador ainda ser grande (42%), praticamente todos também o fazem pelo telefone celular.
Isso mostra o quanto técnicas de desenvolvimento de páginas web considerando sua visualização em dispositivos móveis, como o design responsivo e Progressive Web Apps, têm enorme importância para atingir seu público.
Mas não adianta só criar páginas e aplicações que funcionem em telefones celulares se elas são pesadas, carregam elementos e componentes desnecessários principalmente para os usuários que têm planos de dados de Internet limitados.
Segundo a pesquisa, 58% dos brasileiros acessam a internet exclusivamente pelo celular e 62% dos planos de telefonia móvel são pré-pagos.
Então, pense duas vezes antes de carregar sua aplicação com elementos, bibliotecas e frameworks que vão deixá-la mais pesada para o usuário.
Acessibilidade
Na publicação intitulada Acessibilidade e Tecnologias: um panorama sobre acesso e uso de Tecnologias de Informação e Comunicação por pessoas com deficiência no Brasil e na América Latina, o Cetic.br e o Centro de Estudos sobre Tecnologias Web do NIC.br – o Ceweb.br – apresentam dados de navegação de pessoas com deficiência entre 2012 e 2017, fazem algumas análises e nos trazem preocupações nesse tema.
Os números divulgados nessa publicação mostram que 41% da população sem deficiência usou a internet em 2016, enquanto essa proporção é de 23% para pessoas com deficiência no mesmo período.
Ainda, o número de pessoas com deficiência usando o celular (64%) está bem próximo do número de pessoas sem deficiência que usam o dispositivo móvel (70%).
Exclusão digital
Voltando para a TIC Domicílios 2019, além da questão de dispositivos para uso e planos de acesso à internet, a pesquisa apresenta detalhes sobre o número de pessoas que nunca se conectou (20%) e motivos dessa exclusão digital.
A maioria das pessoas que nunca usou a Internet disse que a falta de habilidade com o computador (67%) é um dos motivos para nunca terem acessado a rede.
Usar o computador ainda é uma barreira para uma enorme parcela da população.
Essa dificuldade pode se dar por diversos motivos, seja pela dificuldade em ler ou operar uma aplicação, seja pela falta de acessibilidade de um sistema, site ou aplicação.
Considerando que a maioria das páginas web brasileiras têm problemas de acessibilidade, essa dificuldade faz bastante sentido quando falamos do acesso de pessoas com deficiência.
Aplicações, sejam elas para computador, celular ou para páginas e aplicativos web, precisam ser fáceis de usar.
As pessoas que não utilizam um computador devem se sentir confortáveis para usá-las de forma segura, bem como estarem em conformidade com os padrões internacionais de acessibilidade na web para eliminar as barreiras de acesso.
Atividades no telefone celular
Apesar de ligações telefônicas representarem a maior atividade de uso do celular, merecem destaque enviar mensagens instantâneas (80%), assistir vídeos (70%) e redes sociais (65%), pois são atividades que envolvem aplicações que usamos diariamente.
Mesmo não tendo total controle sobre as grandes aplicações, podemos melhorar a experiência do usuário com pequenas intervenções.
Enviar mensagens instantâneas não está somente relacionado a aplicativos fechados de smartphones.
Boa parte dessas ferramentas possui uma interface web e precisam seguir padrões para que funcionem no maior número de dispositivos e navegadores possíveis.
Vídeos nativos em plataformas e aplicações já são realidade há muito tempo.
Cada vez mais pessoas passam mais tempo assistindo a vídeos, seja para entretenimento, trabalho ou estudo.
Recursos audiovisuais precisam ser acessíveis, com legendas ou com a possibilidade de transcrição do áudio.
Já pensou que uma pessoa surda pode estar tentando assistir seu tutorial em vídeo, mas não consegue porque não tem uma alternativa em outro formato?
Publicações inclusivas
Apesar de não ser possível interferir muito em questões relacionadas à padronização ou acessibilidade em rede social, é possível criarmos postagens mais inclusivas, descrevendo imagens e proporcionando legendas para os vídeos da rede.
Lembre-se que nem sempre o usuário está em uma posição ou local confortável para ler, assistir ou interagir com uma aplicação no telefone celular.
Seu uso deve ser fácil em telas pequenas.
A internet vai além das grandes aplicações.
As boas práticas servem para publicações tanto no grande canal de notícia, quanto no seu blog sobre receitas culinárias.
Combinando todas essas informações podemos dizer que:
- Precisamos desenvolver aplicações leves que funcionem bem em dispositivos móveis. As pessoas podem não ter uma boa conexão ou mesmo um computador em casa para acessar a internet.
- As aplicações precisam ser simples, para que qualquer pessoa consiga utilizar. Pessoas deixam de usar a rede com a justificativa de que usar o computador é difícil. Precisamos fazer com que seu uso seja mais fácil.
- Usuários fazem uso em massa de telefone celular para interagir e consumir conteúdo. Pense na performance do seu vídeo e em recursos que possam melhorar a experiência do usuário em dispositivos móveis.
- Reinaldo Ferraz é gerente de projetos do NIC.br.