A experiência dos Estados Unidos nas eleições presidenciais de 2016 mostram como campanhas de notícias falsas fomentaram temas polêmicos para exacerbar a divisão na opinião pública daquele país e tirar proveito disso.
Artigo publicado na New York Review of Books, destacou que, em 2016, 126 milhões de norte-americanos viram no Facebook material gerado por agentes russos.
Naquele período, segundo Philip N. Howard, professor de Oxford, eleitores distribuíram no Twitter praticamente de fake news e de notícias produzidas por profissionais.
Agentes russos criaram centenas de contas que se passavam por norte-americanos e simulavam interesses e hobbies, além de obedecer a horários de publicação e ao calendário de feriados dos Estados Unidos.
Eles também operavam a partir de servidores dos EUA, para dificultar sua identificação.
Dividir e conquistar
Os agentes russos também criaram grupos com centenas de milhares de membros, que refletiam temas que causam polarização, como raça e religião.
Ben Buchanan, professor da Universidade de Georgetown, enumerou alguns nomes de grupos criados por agentes russos:
- Fronteiras Seguras,
- Blacktivist (contração de ativista negro),
- Mulçumanos Unidos da América,
- Exército de Jesus, e
- Coração do Texas.
Os gerentes da operação instruíram os agentes a “usar qualquer oportunidade para criticar Hillary e o resto (com exceção de Sanders e Trump – nós os apoiamos)”.
Os russos também compraram propaganda nas mídias sociais, incluindo pelo menos 3,5 mil anúncios no Facebook.
Para isso, eles roubaram identidades de vários cidadãos norte-americanos, para que não fosse descoberta a operação ilegal.
Além de interferir no resultado das eleições, o objetivo era fomentar a divisão da sociedade norte-americana.
Por exemplo, um dos grupos controlados pelos russos criou uma manifestação chamada “Salve o conhecimento islâmico” em Houston, enquanto outro organizou uma resposta chamada “Pare com a islamização do Texas”.
Grupos governamentais
O professor Howard, de Oxford, identificou 70 governos que têm equipes de desinformação para as redes sociais, com o objetivo de espalhar mentiras ou esconder a verdade.
A China emprega 2 milhões de pessoas para produzir 448 milhões de publicações por ano e o Vietnã treinou 10 mil estudantes para defender o governo nas redes.
O ex-presidente mexicano Enrique Peña Nieto tinha 75 mil contas de robôs para promovê-lo no Twitter.
Na Rússia, quase metade das publicações no Twitter são feitas por robôs.
Dessa forma, as notícias falsas normalmente fazem parte de campanhas com objetivos específicos, que tentam passar por movimento espontâneo.
Para o professor Howard, as fake news um sintoma da doença que é o “monopólio da informação” nas mãos de poucos gigantes do setor de tecnologia.
Por fim, o artigo do New York Review of Books teve como base três livros:
- Active Measures: The Secret History of Disinformation and Political Warfare (Farrar, Straus and Giroux), de Thomas Rid;
- The Hacker and the State: Cyber Attacks and the New Normal of Geopolitics (Harvard University Press), de Ben Buchanan; e
- Lie Machines: How to Save Democracy from Troll Armies, Deceitful Robots, Junk News Operations, and Political Operatives (Yale University Press), de Philip N. Howard.