Open banking no Brasil: API or not API?

O modelo de open banking dá ao consumidor controle sobre seus dados bancários / Renato Cruz/inova.jor
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O modelo de open banking dá ao consumidor controle sobre seus dados bancários / Renato Cruz/inova.jor
O modelo de open banking dá ao consumidor controle sobre seus dados bancários / Renato Cruz/inova.jor

A Europa se prepara para uma revolução no setor bancário. Com a regulação sobre os open banks (bancos abertos) praticamente pronta, novas instituições financeiras apontam no horizonte uma nova realidade em que o correntista torna-se ao mesmo tempo seu próprio banco e seu próprio banqueiro.
Especialistas defendem que essa pode ser uma das maiores mudanças nas finanças pessoais em anos. Outros mais céticos preveem que a transformação pode trazer implicações ao criar uma membrana de segurança semipermeável aos dados privados das pessoas por meio das APIs (sigla em inglês de interface de programação de aplicações).
As regras chegam para regulamentar o chamado open banking e permitem que clientes compartilhem suas informações financeiras com outras empresas que não sejam necessariamente seus bancos, abrindo oportunidades para a obtenção de melhores ofertas em empréstimos, cheques especiais, crédito, investimentos e até seguros.
Para os entusiastas, isso revoluciona o sistema bancário e torna o meio financeiro e de créditos mais competitivo, possibilitando que consumidores tenham acesso a melhores produtos, com juros e preços diferentes. Aos olhos dos céticos, isso pode causar problemas com a segurança de dados previamente privados.
Na Europa, as novas regras prometem uma abertura substancial do mercado bancário. Por enquanto a chegada da novidade ainda é discreta.
Uma pesquisa feita com consumidores revelou que 92% nunca ouviram falar de open banking e que apenas 6% dos correntistas de bancos convencionais também tinham contas nesse novo formato (dados de 2018 da Competition and Market Authority).
Os open banks ainda são uma novidade em crescimento e isso é muito bom.

O que é open banking?

Em contas convencionais, os dados financeiros sobre como você gasta seu dinheiro, com que frequência você usa cheque especial ou quanto chega na sua fatura de cartão de crédito são mantidos em sigilo pelo seu banco. O uso dessas informações é restrito a iniciativas de ofertas internas.
Pela regra europeia, a propriedade desses dados será essencialmente transferida para o consumidor, que poderá dar permissão para o acesso as suas informações.
Medidas extras estão sendo tomadas no Reino Unidos e outros países da Europa para avançar com o open banking. A demanda central é a consolidação de padrões de integração e compartilhamento de informações pessoais de maneira segura.
A ideia de open banking tem como premissa abrir seus dados sobre transações bancárias. Você os compartilha com quem quiser, para que as empresas analisem os dados e sugiram negócios, investimentos e soluções para o seu dinheiro.

Mas, e daí?

Uma vez valendo, as pessoas poderão usar os serviços de mais bancos e aprovar órgãos financeiros de maneira muito mais direta, com poder de barganha maior.
Isso pode se dar a partir da abertura de um aplicativo bancário confiável que mostre todas as contas de uma pessoa em uma única lista consolidada num processo chamado agregação de contas.
Isso também pode significar oferecer a uma empresa a análise de seus dados financeiros e o de seus dados de conta para uma espécie de consultoria orçamentária, para que ofertas alternativas no mercado sejam sugeridas.
Em essência, um sistema que analisa e compara o desempenho financeiro e o perfil de correntista com o intuito de vender produtos ou serviços.
Dessa forma, o cheque especial não precisará mais viver dentro da conta corrente. Ele poderá vir de outra fonte que, ao verificar seu saldo negativo, injeta dinheiro na sua conta a juros já escolhidos por você previamente e aprovados pelo seu fornecedor.
Com as finanças abertas, ao usar R$ 1 mil de cheque especial ao mês, por exemplo, você será capaz de ver na tela do seu celular quais instituições o atendem da melhor forma e com as menores taxas e, dessa maneira, ter flexibilidade para trocar de banco, se essa for a sua vontade.
Os correntistas também devem estar cientes de que não têm obrigação de compartilhar seus dados. Ninguém vai forçá-los a compartilhá-los.

As desvantagens

Embora os consumidores possam se sentir confiantes de que seus dados estão completamente seguros em suas mãos para uso irrestrito, essa sensação de exposição também pode causar desconforto.
Para que os clientes realmente se envolvam nesse novo cenário, é preciso ter certeza de que há garantias para protegê-los.
Os consumidores devem estar cientes de que as informações obtidas por um simples aplicativo podem não ser imparciais. Segurança em primeiro lugar continua sendo nosso lema.

E por aqui?

Imagine se no Brasil fosse possível trocar de banco igual a mudar de operadora de telefonia. Se houvesse iniciativas de portabilidade bancária homologadas por lei.
É quase essa a proposta do open banking, uma diretriz que reforça que o consumidor é o proprietário dos seus dados bancários, com garantias sólidas de que seu dinheiro pode mudar facilmente de administrador, de empresa e de consultores de investimentos, mas jamais vai trocar de mãos.
As APIs estão aí para garantir isso.

  • Edgar Silva é general manager para a América Latina da WSO2

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