Como as universidades podem ser alavancas de inovação

A Universidade de Stanford foi essencial para o surgimento do Vale do Silício / John Loo/Creative Commons
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Universidades: Stanford foi essencial para o surgimento do Vale do Silício / John Loo/Creative Commons
A Universidade de Stanford foi essencial para o surgimento do Vale do Silício / John Loo/Creative Commons

O progresso técnico, desenvolvimento de tecnologias e pesquisas são essenciais para o crescimento econômico de qualquer nação.
As universidades e os institutos de pesquisas podem contribuir consideravelmente para as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) das empresas.
Além disso, os problemas reais enfrentados por organizações privadas podem realimentar o ambiente acadêmico, proporcionando mais desenvolvimento e pesquisas aplicadas.
De maneira geral, realizar P&D envolve altos investimentos, que nem sempre são viáveis para a maioria das empresas brasileiras.
Neste contexto, a busca pela cooperação em P&D com universidades e centros de pesquisas é uma alternativa para muitas delas.
Mesmo aquelas com capacidade de investimento podem se beneficiar da cooperação, tendo acesso a mais conhecimento, tecnologia e pesquisa pura.
Em países como Estados Unidos, Canadá, Israel, Inglaterra, França e Japão, a relação entre centros de pesquisas e empresas se intensificou a partir da década de 1940.
É nesse contexto que surgiu o Vale do Silício na Califórnia, com forte interação e cooperação de empresas com a Universidade de Stanford.

Stanford e o Vale do Silício

O Vale do Silício, na Califórnia (EUA), é uma região na qual está situado um conjunto de empresas criadas a partir de meados do século passado, com o objetivo de gerar inovações científicas e tecnológicas, destacando-se na produção de eletrônicos e tecnologia da informação.
Essa história começou impulsionada por Stanford, uma importante universidade da região. Depois da Segunda Guerra, houve uma forte atuação do reitor Frederick Terman, que passou a incentivar professores e graduados na universidade a criarem suas próprias empresas.
Os pioneiros foram dois estudantes de Stanford que, com apenas US$ 538, fundaram e deram os seus próprios nomes à Hewlett-Packard (HP), que se tornou uma das maiores empresas de tecnologia do mundo.
Além da HP, diversas outras companhias de alta tecnologia foram lançadas na região e potencializadas pela Universidade de Stanford.
Empresas como Apple, Google, Facebook, Nvidia, Electronic Arts e Intel estão hoje baseadas no Vale do Silício.

Relação incipiente

No Brasil, a relação entre empresas e centros de pesquisas ainda é extremamente incipiente. De acordo com estudo da Unicamp, muitos pesquisadores ainda se posicionam contra a interação entre academia e empresa.
Para eles, essa interação desvia as funções das universidades, que deveriam se dedicar exclusivamente à pesquisa pura.
Todavia, o mesmo estudo demonstra que a grande maioria das pesquisas em que houve interação com empresas gerou mais teses, dissertações, projetos de iniciação científica e publicações.
A interação gera benefícios aos grupos de pesquisa, assim como aos setores empresariais, num processo de retroalimentação constante entre empresas e universidade.

Retroalimentação positiva

Leonardo dos Reis Vilela, da Cedro Technologies / Divulgação
Leonardo dos Reis Vilela, da Cedro / Divulgação

As interações constantes entre universidades e empresas podem ser vistas como alavanca para o desenvolvimento econômico regional e nacional.
Se bem organizada, a interação pode gerar frutos para todos os envolvidos no processo, não se limitando às empresas ou universidades, mas também à toda sociedade.
Ela permite que tanto empresas quanto universidades possam desempenhar sua função social prevista na Constituição do Brasil.
Os ganhos são sistêmicos e geram retroalimentação positiva. Dentre os benefícios, enumero:
Comprometimento dos estudantes. A integração entre empresas e universidades influi no comprometimento, engajamento e produtividade dos estudantes, uma vez que a teoria estudada é rapidamente aplicada ao mundo prático. Essa integração também dá visibilidade para a sociedade sobre o papel e objetivos de cada curso de graduação.
Novos cursos. A integração entre empresas e universidades permite às universidades identificar necessidades reais de formação de profissionais. Isto possibilita que elas possam criar novos cursos, adaptar currículos e promover atividades de extensão junto à sociedade, conforme necessidades regionais ou nacionais.
Formação complementar. A formação e estudo são de responsabilidade das universidades e centros de ensino. Todavia, a interação com empresas permite que os alunos possam receber formação prática complementar aos estudos, seja no desenvolvimento de projetos, estágios e pesquisas junto às empresas.
Problemas reais e pesquisa Aplicada. A interação entre empresas e universidades permite que estudantes de graduação, mestrado e doutorado pesquisem e resolvam problemas reais da sociedade, desenvolvendo pesquisas aplicadas que possam gerar o desenvolvimento de novos produtos tecnológicos de alto impacto na sociedade, resolvendo problemas reais e gerando impostos, que vão realimentar os investimentos do governo nas universidades e centros de pesquisas.
Acesso ao conhecimento. As parcerias formadas entre empresas e universidades podem facilitar a transferência de conhecimento, permitindo que os alunos das universidades tenham mais conhecimento de práticas do mercado e que as empresas recebam insights e informação para o desenvolvimento de novos produtos.
Pesquisas acadêmicas. Milhares de pesquisas são realizadas simultaneamente no Brasil em centenas de universidades e centros de pesquisas. Incentivar a parceria entre universidade e empresa pode contribuir com a geração de novos produtos e serviços para a sociedade, a partir de pesquisas originadas na academia. Isso, mais uma vez, permite que os recursos investidos pelo governo nas universidades possam gerar riqueza e alimentar a economia.
Direcionamento acadêmico. A proximidade das universidades com o mercado possibilita que os conteúdos acadêmicos, sobretudo das áreas tecnológicas, possam ser orientados conforme necessidades do mercado, respeitando certamente um equilíbrio na formação dos alunos. O contrário também é válido, pois incentiva as empresas a pesquisarem e desenvolverem novos produtos, gerando inovação, diferencial competitivo e crescimento econômico de suas atividades.
Financiamento de pesquisas. Nos EUA as parcerias públicas-privadas são responsáveis por grande parte do financiamento de pesquisas. As empresas e universidades podem realizar investimentos em conjunto em projetos de interesse mútuo. No Brasil, embora seja incipiente, muitas empresas já realizam P&D dentro das universidades, inclusive com investimentos financeiros.
Mão de obra especializada. O custo para manter pesquisadores capacitados nas empresas envolve altos investimentos. A cooperação possibilita que as empresas possam se beneficiar, com menores custos, da interação com professores e pesquisadores.
Cultura de empreendedorismo. Os alunos de graduação e mestrado podem, desde cedo, interagir com empresas e com o mercado de trabalho. Isso fomenta a cultura de empreendedorismo e o surgimento de startups e spin offs a partir de pesquisas em universidades.

Alianças e parcerias

O Brasil precisa se projetar no cenário mundial como um player de inovação e desenvolvimento tecnológico. Esse caminho passa obrigatoriamente por alianças e parcerias entre empresas, pesquisadores, centros de pesquisas e universidades.
Posso ter a ousadia de afirmar que certamente o Vale do Silício não seria o que é hoje sem a Universidade de Stanford, nem a Universidade de Stanford seria o que é hoje se não existisse o Vale.
Dessa maneira, há um processo virtuoso que se autoalimenta a cada interação.


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