Diz-se sobre a mulher de César, imperador Romano, que não bastava ser, tinha de parecer. Nesse ambiente turbulento de demanda por inovação que vivenciamos, algumas empresas têm se esquecido da primeira parte.
Em termos de inovação, primeiro é preciso ser para depois parecer. E, como você pode imaginar, é mais fácil parecer inovador do que efetivamente ser um deles.
Além disso, existem gestores que acreditam que agradar o chefe será suficiente. Em função disso, fazem entregas que geram buzz, mas não business.
Cedo ou tarde irão dar com os burros n’água. Nos últimos anos, atendendo a centenas de empresas diante do desafio de se tornarem inovadoras, desenvolvemos um senso apurado para identificar aquelas companhias que estão fazendo esforços para inglês ver.
Dê uma olhada na lista abaixo e veja se você identifica esses sinais na sua empresa.
1. Adora fazer sessões de design thinking e ideação, mas não faz nada com os post-its.
A ideação é a parte fácil da inovação. O lado obscuro da inovação é a execução, especialmente numa corporação.
Quando o indicador-chave de desempenho dominante da empresa é o número de sessões de ideação ou o número de ideias geradas, alguma coisa está errada.
Criatividade é inspiração. Inovação é transpiração.
2. Contrata consultoria para organizar a inovação, porém não aloca recursos para pilotar os projetos inovadores.
Já vivenciamos situações nas quais o cliente nos contratou para desenhar a estratégia e o modelo de inovação. Fizemos um trabalho muito legal.
No entanto, quando chegou a hora de colocar os projetos para rodar, não havia orçamento para isso. É preciso ser seletivo e criterioso com os investimentos em inovação.
Assim como o filósofo popular Muricy Ramalho diz que “a bola pune”, posso garantir que, em se tratando de inovação, o mau uso do dinheiro também.
3. Cria uma área de inovação interna ou patrocina um coworking com esse propósito, mas apenas uma ou duas pessoas aparecem por lá.
É muito legal para a marca e o posicionamento da empresa ser patrocinadora de um espaço de coworking como o Cubo, InovaBra ou tantos outros.
No entanto, esses movimentos são meio – e não fim. Se não houver estratégia definida, tempo, dinheiro e gente graúda trabalhando por lá, fazendo conexões e com mandato para tanto, a iniciativa vai micar.
4. Investe em viagem ao Vale do Silício, mas não tem ninguém integralmente dedicado a projetos de inovação.
As missões ao Vale do Silício, China, Israel e todo ecossistema são incríveis. Recomendo. Servem como uma inspiração fantástica, mas não mais do que isso.
A empresa não se transforma pelo número de pessoas que viajam, mas pelo número de projetos que pousam no seu dia a dia. Se sua empresa precisa ser sensibilizada para o tema, a missão pode ser bastante útil.
Só é preciso lembrar de guardar dinheiro para os profissionais que tocarão os projetos que surgirem dessa inspiração. O que muda a empresa são as inovações. E ninguém faz algo incrível no tempo que sobra.
5. Se preocupa mais com a posição no ranking das empresas inovadoras do que com o resultado dos projetos de inovação.
Os rankings de companhias mais inovadoras, melhores para trabalhar ou mais sustentáveis são legais, pois chancelam o seu trabalho para o público externo e, por vezes, dão uma forcinha para que a galera interna e descrente possa acreditar.
Vaidade, no entanto, tem limite. Atendemos várias das empresas mais inovadoras do País, mas o que nos enche de orgulho são os resultados que geramos em projetos específicos com cada um dos clientes. Naturalmente, os rankings são uma ferramenta interessante, mas tem gente craque em preenchimento de questionários.
Se sua empresa prefere dedicar mais tempo a eles do que para a avaliação do impacto real dos projetos de inovação, há sinal de teatro no ar.
6. Contrata um líder de inovação de uma empresa descolada, mas dá a ele um estagiário para transformar a cultura de uma corporação centenária.
Se inovação é importante, é preciso investir em gente. É assim na produção, no marketing ou mesmo nas finanças. Contratar um gestor de inovação que trabalhou no Google não é suficiente. Esse cara precisa de profissionais bons e competentes para fazer a transformação acontecer.
Inovação é algo incerto. Há métodos e ferramentas para tentar reduzir a imprevisibilidade dos investimentos na área. Trocar a essência pela aparência não melhora a situação. Pelo contrário, além de não gerar resultados, colocará ainda sua carreira em risco.
Ser inovador pode demandar muito mais esforço do que parece, mas sem dúvida alguma, é algo mais digno, promissor e muito mais engrandecedor.
- Maximiliano Carlomagno é sócio da Innoscience
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