Transformação digital é um tema que têm ganhado cada vez mais destaque nas organizações.
Apesar da popularidade, muita gente ainda pensa que a transformação digital limita-se à adoção de tecnologias.
Mas é muito mais do que isso, pois envolve mudança não apenas de infraestrutura, mas de cultura, processos e pessoas.
Esse tema foi debatido por mulheres líderes de diferentes setores, durante o evento Transformação Digital por Elas, na tarde da segunda-feira (3/12).
Realizado em São Paulo pelo inova.jor, o encontro teve o apoio do LinkedIn e da Stilingue.
Por elas, para todos
Na abertura, Patricia Barão, diretora de projetos especiais do inova.jor, indicou a diversidade de gênero como um dos pontos focais para o fomento da transformação digital nas empresas.
“Hoje percebemos a necessidade de trazer mulheres. No cenário de mídia, por exemplo, falta falar de pessoas e, especialmente, de mulheres”, aponta, salientando que quase metade dos leitores (48%) do inova.jor são do sexo feminino.
Um estudo recente da consultoria McKinsey, chamando Delivering Through Diversity, corrobora esse pensamento, ao apontar a diversidade como alavanca para o avanço das organizações.
Empresas que investem em equipes com diversidade de gênero, por exemplo, têm 15% mais probabilidade de apresentar lucratividade acima da média.
Equipes executivas de empresas de performance superior têm mais mulheres em cargos de liderança do que em outras funções, segundo o estudo.
“Tudo começa com a cultura. E espero que, a partir de hoje,possamos formar comunidades independentemente do estágio de transformação e de maturidade das empresas”, completa Patrícia.
Mulheres em TI
Tatiana Medina, gerente de tecnologia da informação (TI) da Klabin, discutiu a presença da mulher no mercado de tecnologia.
Durante a apresentação, a executiva lembrou de várias mulheres que fizeram história, como Ada Lovelace, a primeira programadora da história, e a irmã Mary K. Keller, primeira mulher a receber doutorado em ciência da computação, que fez parte da equipe que implementou a linguagem de programação Basic.
“Mesmo com essas inspirações, ainda vemos uma garotada chegando ao mercado de trabalho e evitando a área de TI”, comentou.
“Como começamos a prover condições para essa nova geração de meninas olharem a tecnologia como alternativa de área de trabalho para o futuro?”, questionou.
Hoje, apenas 20% da força de trabalho no mercado de TI são compostos por mulheres, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Tatiana, a resposta pode estar na criação de alternativas às faculdades tradicionais de tecnologia, onde o ambiente pode ser bastante masculinizado e, de certa forma, hostil.
Conectar-se com jovens mulheres e dar exemplos de lideranças femininas também ajudam a mudar esse cenário, na opinião da executiva.
Comunidades digitais
A digitalização tem causado mudança significativa na sociedade.
Mundialmente, gastamos mais tempo na internet do que dormindo. A média diária global de uso da rede em qualquer dispositivo é de 9h14.
Em se tratando de redes sociais, são 3h39 – ainda um tempo considerável.
A formação de comunidades digitais mudou a forma como as pessoas se relacionam com as marcas.
“Em vez de procurar a marca, o consumidor procura referências”, apontou Cassia Messias, COO da Stilingue. “Desde que o mundo é mundo, fazemos essa análise via referência. Mas as plataformas sociais trouxeram esse comportamento para o mundo digital.”
A Stilingue usa inteligência artificial para mapear comunidades, monitorar o que elas estão falando e extrair insights relevantes para empresas.
Cassia Messias citou as três principais competências trabalhadas pela empresa:
- Cuidado, qualidade necessária para se ter com a comunidade de consumidores e criadores de conteúdo;
- Inteligência, para entender onde estão ocorrendo as conversas, o que está acontecendo, e participar de forma relevante;
- Agilidade, que está diretamente ligada ao real time, ao tempo de ação que uma empresa deve ter.
Rede corporativa
O LinkedIn é uma rede social corporativa do mundo em que as pessoas promovem conversas em torno de assuntos corporativos, para desenvolvimento de carreira e negócios.
Ana Carolina Almeida, gerente de marketing do LinkedIn Brasil, falou a respeito da ferramenta Social Selling, usada para se relacionar com clientes e prospects.
A ideia, segundo a executiva, é trazer um pouco dos relacionamento e comportamento de compra do consumidor final para as vendas corporativas (B2B).
“Hoje, para realizar uma venda corporativa, é preciso falar com aproximadamente 6,8 pessoas”, comentou Ana Carolina, salientando que o processo pode ser penoso se uma dessas pessoas troca de emprego.
“Se você não consegue envolver todas as pessoas que precisa, pode perder a venda no meio do caminho.”
Encontrar e manter diálogo com as pessoas certas está na essência do LinkedIn.
Esse é um exemplo de que a transformação digital é, no fim das contas, feita de pessoas.
Cultura e habilidades
Marcela Vairo, diretora de canais da IBM, destacou duas mudanças que devem pelas empresas ser realizadas são: a transformação cultural e a de habilidades.
“Meu time sabe analisar dados de uma forma diferente? Ele está preparado?”, questionou.
Para ela, é preciso transformar a força de trabalho para um novo cenário que a transformação digital vai promover.
Ela apresentou estágios da transformação digital, para que as companhias possam analisar o que precisa ser feito.
Juliana Bernardo, head de inovação da Bestway Group Brasil, apresentou sua experiência pessoal num processo de transformação digital, e como o primeiro passo é engajar as pessoas.
Para ela, é importante entender que a transformação e a mudança começam internamente.
E a cultura entra como elemento principal para permitir que todo o processo seja feito de forma natural e que os resultados possam ser mantidos por muito tempo.
Mas por onde começar?
“Não dá pra começar instrumentalizando as pessoas, colocando design thinking na prática. É preciso contextualizar”, disse ela.
Afinal, nem todos os colaboradores estão familiarizados com o conceito transformação digital e tampouco sabem o que ele representa.
Ir pelo lado humano da mudança é o melhor caminho, afirmou a executiva.
Mercado jurídico
Evy Marques, sócia do Felsberg Advogados, mostrou como a transformação digital impacta o mercado jurídico.
Ao se envolver com startups por meio de atendimento pro bono, ela entendeu que um mundo de possibilidades poderia ser aberto também em sua área de atuação.
Um exemplo disso são os smart contracts. Por meio do blockchain, tecnologia que é base de criptomoedas como o bitcoin, é possível transformar contratos em software.
Ela afirmou que não apenas o escritório de advocacia vai sofrer transformação, mas a formação de profissionais em si.
A digitalização do direito cria postos como cientista de dados jurídicos e Data Protection Officer (DPO).
“A partir de fevereiro de 2020, todas as empresas terão de ter um DPO”, ressaltou a advogada, referindo-se às exigências da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
Experiência que conta
Muito se fala atualmente sobre a experiência do usuário, também conhecida pela sigla UX.
Mas muitas companhias não se dão conta de que isso não vale apenas para o digital, quando se está desenvolvendo um site ou aplicativo.
Maria Ercília Galvão, fundadora e CEO da Try Consultoria, mostrou como o conceito pode ser aplicado de forma muito mais ampla.
Segundo Maria Ercília, a experiência toca fundo em algo antigo.
Ela, de alguma forma, se conecta com o usuário final, levando à identificação e, consequentemente, criando uma conexão.
“Os consumidores vão escolher um produto ou serviço com base no poder de transformação que aquilo representa na vida deles”, afirmou.
Ela citou como exemplo padarias artesanais que têm ganhado destaque nos últimos tempos.
As produções limitadíssimas desses locais não são impeditivo para os negócios, muito pelo contrário.
É exatamente essa escassez, essa entrega de valor por meio do artesanal, que é o ponto crítico para entregar uma experiência diferenciada.
“Desenvolver uma plataforma digital e permitir que o desenvolvimento de produtos volte a ser algo criativo, sem preocupação de vender tudo para todos o tempo todo, é algo muito poderoso e interessante”, encerrou a executiva.