O mercado brasileiro de telecomunicações está menos dependente dos grandes players. Operadoras competitivas têm conseguido criar alternativas tanto no acesso e na rede de transporte quanto em conexões internacionais.
A participação de mercado das empresas competitivas chegou a 18,8% em agosto deste ano. No fim de 2015, era de 14%.
“O desafio das teles é o enorme esforço de transformação digital para modificar seu DNA do século passado e adequá-lo a um novo cenário competitivo”, afirma João Moura, presidente executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp).
Em 7 de novembro, será realizado em São Paulo o X Seminário TelComp 2017, das 12h às 18h30, com o tema Transformação Digital e as Telecomunicações. As inscrições estão abertas.
A seguir, trechos da entrevista com Moura.
O que mudou no cenário competitivo das telecomunicações brasileiras?
No passado, operadores competitivas, inclusive pequenos provedores, estavam completamente sob o controle das grandes teles.
Tanto para conexão à internet, como para redes de transporte e última milha, a dependência era total.
Atualmente, novos sistemas de cabos submarinos independentes aumentam oferta e variedade de fornecedores e reduzem preços, contribuindo para a competitividade das novas operadoras.
O mesmo vale para redes de transporte e última milha, que continuam a atrair novos players, inclusive com a oferta de alternativas tecnológicas como satélites e rádios digitais de última geração.
Qual é o impacto do aumento da oferta de infraestrutura?
Essa nova realidade permite que um novo operador escolha um dos elos da cadeia de valor para iniciar seu projeto, contrate elementos de redes de terceiros – sem depender somente dos grandes grupos –, leve suas ofertas ao cliente final e cresça no mercado.
As novas redes das operadoras competitivas – sem o peso do legado – têm custo de implantação mais baixo e potencial de evolução necessário para o futuro digital.
Investir em telecomunicações no Brasil é um bom negócio?
Esse modelo começa a mostrar resultados e isso pode ser confirmado pelo crescimento robusto das operadoras alternativas nos últimos três anos.
O crescimento vem da expansão do mercado como um todo, mas também do ganho de share que estava nas mãos dos grandes grupos.
É um movimento virtuoso que, se continuar, contribuirá para desconcentrar o mercado, incentivar a competição, a inovação e a qualidade, requisitos básicos para a transformação digital.
Mas o discurso das grandes operadoras não é tão otimista, certo?
As grandes operadoras de telecomunicações repetem em uníssono que o modelo atual está exaurido, que as receitas caem acentuadamente e forçam a redução de investimentos.
Parece um círculo vicioso em que a queda de receitas compromete investimentos e o crescimento futuro.
Certamente, o antigo modelo de concessões tem peso neste processo. A carga tributária atual, absurdamente alta, também tem grande peso nessa deterioração.
E tudo indica que a carga tributária não será mudada nos próximos muitos anos.
Qual seria a saída?
As redes das teles ancoram toda a nova economia digital. Além de conectividade, as teles são fornecedoras naturais de sistemas de segurança – elemento crítico no ambiente de bilhões de conexões.
Elas podem também se oferecer serviços de CRM e bilhetagem, nuvem, big data e análise de dados, comunicações unificadas, entre outros, a partir dos recursos e competências atuais.
Na fronteira, as teles mais arrojadas, vão incrementar seus portfolios com serviços de vídeo, publicidade, cidades inteligentes, internet das coisas, finanças e varejo.
Mas isso exige ainda mais arrojo para a transformação a partir do modelo clássico dos serviços de telecomunicações.
O crescimento das receitas do setor dependerá da capacidade de inovação nas ofertas de serviços digitais próprios e da criação de plataformas que possibilitem a oferta de serviços inovadores, num modelo de múltiplas parcerias, com o universo de criadores de aplicações mundo a fora.