A cultura do empreendedorismo, tão difundida em países como Estados Unidos, ainda é pouco difundida nas universidades brasileiras, o que limita o interesse dos estudantes.
Especialista no assunto, Diogo Dutra é coordenador de conteúdo do programa Academic Working Capital (AWC). O projeto é fruto de uma iniciativa do Instituto TIM, que tem como foco universitários no fim da graduação.
O programa funciona como uma “ovuladora”, estimulando a transformação de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) em produtos comercializáveis e criação de novas startups.
Ao todo, 40 trabalhos já passaram pelo programa nos últimos dois anos.
Segundo o especialista, empreender ainda não é a primeira opção dos universitários brasileiros ao chegar no mercado de trabalho. E o desestímulo pode continuar, caso o modelo de ensino não mude nos próximos anos.
Em entrevista ao inova.jor, Dutra fala sobre os motivos que afastam o universitário brasileiro da criação do próprio negócio, das iniciativas em curso e das expectativas para este ano.
As universidades brasileiras apoiam o empreendedorismo como em países desenvolvidos?
Infelizmente ainda não. Para se ter uma ideia, no Brasil, apenas 11% dos egressos de cursos de graduação tiveram (ou têm) uma experiência empreendedora real, de acordo com o relatório Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras, desenvolvido pela Endeavor Brasil.
O que falta?
O mesmo relatório aponta para uma falta de apoio aos estudantes. Cerca de seis em dez instituições públicas brasileiras pesquisadas não oferecem aconselhamento, networking ou sessões de suporte a negócios dos alunos. Nas instituições privadas, a proporção é de quatro em dez instituições.
Disciplinas sobre empreendedorismo nas universidades seriam determinantes para mudar isso?
Não exatamente. Um dos 4.911 alunos entrevistados neste estudo afirmou que o que ele sente falta não é de uma disciplina, mas de um programa que instigue o aluno a mudar, a pensar de forma diferente. Ou seja, ainda que 63% dos estudantes entrevistados já tenham participado de um curso de empreendedorismo na universidade, a abordagem não foi eficaz para a criação de uma opção de carreira real empreendedora logo após a formatura.
Qual é a importância das universidades na formação de novos empreendedores?
Durante a formação acadêmica, além de receber uma formação profissional (baseada no conhecimento), os alunos são provocados a desenvolver competências e atitudes tanto para sua futura adaptação ao mercado (ou academia), como para o empreendedorismo. É claro que alguns currículos provocam mais ou menos determinadas atitudes, mas a formação e o momento da graduação permitem que o aluno desenvolva habilidades, conhecimentos e atitudes de forma despreocupada, já que o erro faz parte do aprendizado nessa fase. Assim, a formação acadêmica e o preparo para o empreendedorismo não são abordagens contrárias, mas sim, podem ser complementares.
O empreendedorismo já é a primeira opção entre os recém formados?
Após a graduação, vemos que as alternativas profissionais para os universitários podem ser listadas em: primeiro, carreira acadêmica; segundo, ir para um emprego numa corporação estável; e, terceiro, empreender. Mesmo quando expostos a disciplinas sobre empreendedorismo, a maioria dos alunos passa pelo último ano focando na primeira ou na segunda alternativa. Assim, todo o processo atual ainda se mostra ineficiente para inserir o empreendedorismo como uma opção.
O que tem sido feito para mudar isso?
Em todo o mundo, programas de educação para o empreendedorismo têm crescido e mostrado aos estudantes o empreendedorismo como uma carreira viável. Ainda há desafios, mas a educação para o empreendedorismo vem evoluindo nas últimas décadas tanto no formato quanto no conteúdo: se antes predominavam as palestras teóricas e cursos centrados no professor, hoje há programas práticos voltados à aceleração de ideias, baseados em conexões mais descentralizadas com a participação de mentores.
E no Brasil?
O Brasil tem vários programas para estimular a construção de empresas de base tecnológica, como os apoiados pela Fapesp e pela Finep e também alguns programas de aceleração como o Start-up Brasil. Além disso, o país está gradualmente formando um ecossistema de empresas de capital de risco, incubadoras e aceleradoras que complementam e apoiam as iniciativas do poder público. Todos estes programas têm um foco em grupos profissionais com alguma experiência, que já estão organizados em torno de uma empresa ou estrutura formal.
Quem pode se inscrever e como funcionará a AWC 2017?
Estudantes universitários de qualquer área, em fase final de graduação, que possuem TCC voltado para uma solução tecnológica ou de inovação, podem inscrever seus projetos no programa, que os apoiará o desenvolvimento de um protótipo e do plano de negócios. Já tivemos uma primeira fase de inscrições em dezembro e devemos abrir outra em março. Os autores dos projetos selecionados recebem orientação profissional, participam de workshops e são acompanhados semanalmente por monitores do AWC. No final do ano, os jovens empreendedores terão ainda a oportunidade de participar de uma feira de investimentos, durante a qual poderão apresentar suas soluções para profissionais do mercado e investidores.