Antes de se tornar presidente da Agrotools, Fernando Martins comandou a subsidiária brasileira da Intel, maior fabricante de processadores do mundo.
Desde o ano passado, quando assumiu a empresa brasileira de tecnologia para o agronegócio, Martins fechou acordos com a Serasa e com a IBM, com o objetivo de aumentar o alcance de seus produtos e de integrar os dados que processa hoje numa plataforma para todo o mercado.
A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva para o inova.jor.
Qual é o potencial do mercado de tecnologia para o agronegócio no Brasil?
É muito grande. Estimamos que só em informações geoespaciais, big data e analytics há alguma coisa da ordem de US$ 1,6 bilhão.
O volume de dados é descomunal e isso gera uma oportunidade muito grande para toda a indústria de TI (tecnologia da informação).
Não só em infraestrutura de nuvem, mas também em sensores, processamento, big data e analytics. Então é bem grande.
Qual é a situação hoje?
Isso é praticamente tudo potencial.
A gente já tem muita tecnologia no campo, com agricultura de precisão e sensores, mas o grande volume de inovação vindo das startups ainda não está implementado como melhor prática.
Muitas das máquinas já são instrumentadas. Existe um nível grande de instrumentação nos equipamentos. Telemetria e veículos autônomos já são coisas do dia a dia. Mas ainda tem muito a evoluir.
Como a Agrotools se coloca nesse mercado?
A Agrotools é uma empresa que vende “insight as a service”. Olhamos um grande volume de dados.
Temos o maior banco de dados do agronegócio tropical, cobrindo mais de 1 milhão de propriedades, com 200 mil análises por ano.
Mas o que nós vendemos é o insight. É uma informação essencial para esse indivíduo que está na cadeia do agronegócio.
Se o sujeito é, por exemplo, um pecuarista, ele tem interesse em comprar esse produto sem nenhum risco socioambiental.
Será que esse boi causou algum desmatamento? Conseguimos prover esse insight combinando dados de satélite com outras fontes de dados.
Hoje temos 1,2 mil camadas de dados no nosso banco e uma análise socioambiental no geral usa de 50 a 100 dessas camadas. E olhamos trabalho escravo, interferências em terras indígenas etc.
Geramos então um relatório socioambiental, hoje vendido pela Serasa, que garante que aquela propriedade não traz nenhum atributo negativo ao produto que dali sai.
Quais são as outras áreas em que vocês atuam?
Os insights não se limitam ao socioambiental. Temos insights de eficiência de supply chain, em que você consegue programar melhor sua logística, definir melhor quando e onde comprar. Se você é uma trading, consegue também definir melhor o escoamento desse produto pela cadeia logística.
Então temos dois tipos de produtos. Num deles a venda é de prateleira, que é esse produto socioambiental, que positiva ou negativa o produto.
E no outro a venda é consultiva, em que há um sistema de extração de insight muito customizada para esse cliente.
Por que vocês fecharam recentemente uma parceria com a IBM?
Essa parceria visa a criar uma plataforma agnóstica e neutra para todo o agronegócio mundial, iniciando no agronegócio tropical aqui no Brasil.
E a ideia é que diferentes entidades do agronegócio, desde financiadoras a entidades que provêm insumos e que fazem o escoamento da produção, que todas elas possam se comunicar e que esses dados possam circular de maneira confiável, em que a propriedade do dado seja assegurada a seu dono e, mais importantemente, que esse dado ao circular gere valor ao seu dono.
O produtor, que hoje produz milho, vai produzir milho e dados. E esses dados vão acabar descommoditizando esse milho, que passa a ser um milho especial, com valor agregado por ter dados.
Quando as pessoas falam de internet das coisas, como posso colocar milho na internet das coisas? É com uma plataforma dessa, que permite que esses dados fluam desde o campo até o prato.
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