Como o governo pode atrapalhar o sucesso das fintechs

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Fintechs brasileiras devem sofrer forte impacto com propostas do governo / Buck shot jones/Creative Commons

O novo pacote definido pelo governo federal para impulsionar a economia pode representar um enorme bloqueio à onda de crescimento em que surfavam as fintechs brasileiras.
As propostas foram anunciadas na última quinta-feira (15/12) pelo presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Até então, a recessão econômica, o aumento do acesso à internet e a crescente preferência do brasileiro por soluções digitais e móveis prometiam tornar 2017 o ano das fintechs no Brasil.
A continuidade do Nubank chegou a ser questionada nesta semana. A fintech é a empresa de cartões de crédito que mais cresce no País.
Isso porque, o governo sugeriu a alteração do prazo de pagamento de venda para os lojistas. Atualmente, as empresas de cartões repassam o valor comprado em média 30 dias, quatro dias após receber o pagamento das faturas.
A proposta do governo prevê que este prazo caia para dois dias.

Aperto de caixa

Tal medida, segundo o próprio Nubank, mataria a startup. Isso porque a fintech não possui capacidade financeira suficiente para repassar o valor aos lojistas antes do recebimento dos clientes.
Após um dia de pressão, o Banco Central anunciou hoje (20/12) que não mudaria o prazo de pagamento, mas que discutiria com as instituições financeiras formas sustentáveis de emplacar as medidas governamentais sem comprometer a competição do setor.
O Nubank possui mais de 1 milhão de cartões emitidos e a fila de espera para novos clientes não para de crescer. Em nota, a empresa criticou as sugestões do governo.
“Chega a ser irônico que uma medida com o objetivo de estimular a economia e beneficiar a sociedade possa ter o efeito oposto: o de colocar em risco a concorrência”, publicou a empresa em um post divulgado no Facebook.

Expectativa de crescimento

O crescimento das fintechs no próximo ano era visto como certo pelas pesquisas e especialistas do setor.
A Pesquisa de Tecnologia Bancária realizado em 2015 pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e divulgada em maio, por exemplo, já apontava a tendência de adoção aos meios digitais neste e no próximo ano.
Segundo a pesquisa, mais de 50% das transações bancárias em 2015 foram feitas por canais digitais – via internet ou mobile banking. As operações feitas por aplicativos digitais foi o principal destaque no estudo, cerca de 11,2 bilhões de transações naquele ano.
A preferência por dispositivos digitais em relação as tradicionais agências físicas já tem reflexo na divisão dos investimentos dos bancos tradicionais.
Apenas no ano passado, as instituições financeiras brasileiras investiram R$ 19 bilhões em tecnologia. A maior fatia (44%) foi destinada à aquisição de software.

Banco móvel

Em estudo mais recente sobre os hábitos dos usuários e tendências para o mercado de telecomunicações – Mobile Consumer Survey 2016 – feito pela Deloitte, a tendência de crescimento parece ser ainda mais expressiva.
Segundo o estudo, os aplicativos de bancos e instituições financeiras figura a quarta posição dos mais usados diariamente pelos brasileiros.
Eles perdem apenas para aplicativos de redes sociais (1ª), jogos (2ª) e música (3ª).
A pesquisa internacional da Deloitte afirma ainda que 57% dos brasileiros ouvidos fizeram algum tipo de transação financeira em seu telefone nos últimos três meses.
As operações mais realizadas pelo celular, no entanto, ainda é consulta de extrato bancário (47%), seguida de pagamentos (28%) e transferências entre contas nacionais (23%).
Complementa este cenário o aumento de habitantes com acesso à internet – 58% da população, segundo pesquisas do NIC.br, melhoria de conexão, crescimento na taxa de bancarizados e período de recessão econômica.

Pagamento de contas

Com os ventos soprando a favor, novas startups surgiram para abocanhar essa fatia.
É o caso da recém lançada Papelada, fintech que funciona como uma caixa de correios eletrônicos, reunindo contas de diferentes instituições em um só aplicativo.
“Em épocas de crise as empresas precisam evitar custos como o envio de boletos pelo correios. De outro lado, o cliente quer organizar o pagamentos das contas de forma fácil e rápida. Nós fazemos isso para os dois em um único aplicativo”, disse Leonardo Moraes, CEO do Papelada.
O aplicativo é gratuito para o usuário que pode reunir todas as contas digitais em um só dispositivo. No dia do vencimento, o consumidor recebe uma notificação de alerta, na tentativa de evitar o pagamento de multas.
Para o mercado, o receio dos usuários brasileiros em usar o serviço de uma fintech estava em queda e a adoção das ferramentas era cada vez maior.
O CEO da Papelada, por exemplo, acreditava que um dos principais receios do próximo ano seria expandir.
“Em um país com dimensões continentais como o nosso, cobrir todas as regiões com os nossos serviços será a nossa principal dificuldade”, completou Moraes. A entrevista foi realizada antes das propostas do governo serem anunciadas.


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