Dietmar Lilie é pesquisador mestre da Embraco. Aos 56 anos, ocupa a posição técnica mais alta na empresa. Em 36 anos de carreira, obteve 121 patentes, de um total de 1.700 concedidas à Embraco.
O pesquisador personifica a importância dada pela Embraco à inovação. “Sempre o que me moveu foi a curiosidade”, afirma Lilie. “Desmontava as máquinas e queria saber como elas funcionavam.”
A trajetória do pesquisador é incomum. “Nunca fiz curso superior”, afirma. “Quando a Embraco fechou um acordo com um grupo de pesquisa da UFSC, fiquei maravilhado. Um professor começou a me passar conceitos de conhecimento teórico.”
A parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi fechada em 1982, quando Lilie tinha dois anos de empresa. “Comecei a absorver conceitos de física e matemática”, conta o pesquisador.
Com sede em Joinville (SC), a Embraco fabrica compressores herméticos, componentes centrais dos sistemas de refrigeração. Com 12 mil funcionários, também está presente na China, Itália, Eslováquia, México, Estados Unidos e Rússia.
O ciclo de desenvolvimento de produtos normalmente leva cinco anos. Além desse ciclo, os produtos da companhia passam por pequenas melhorias contínuas.
Para definir os projetos de inovação, a Embraco estuda megatendências que afetam seu mercado, e escolhe as melhores ideias a partir da geração de casos de negócios.
“Mas é preciso também ter um pouco de fé nos projetos”, afirma Lillie. “Os números frios podem matar uma boa ideia.”
É um lugar comum dizer que o cliente sempre tem razão. Quando o assunto é inovação, no entanto, nem sempre isso é verdade.
“Uma conclusão a que chegamos é que não adianta ficar perguntando para o cliente o que ele quer”, destaca o pesquisador. “Ele costuma falar coisas bem óbvias.”
Entre as patentes que Lilie considera mais importantes, está uma concedida em 1988. Ela descreve um compressor de pistão alternativo para pequenas máquinas de refrigeração e seu processo de montagem.
“Dietmar Lilie é um ponto de referência para toda a organização”, afirma Ernani Pautasso, diretor de Novos Negócios da Embraco. “Ele é considerado um conselheiro, guru e treinador.”
Para incentivar a pesquisa, a Embraco adotou o conceito de carreira W. Quem tem perfil mais técnico, pode chegar ao topo de carreira sem deixar de ser um pesquisador, como é o caso de Lilie.
As duas outras opções são seguir a carreira administrativa ou, para quem combina os dois, assumir um cargo de liderança de projetos ou liderança técnica.
Inovação aberta
Quando a Embraco fechou o acordo com a UFSC, nem existia ainda o conceito de inovação aberta. Atualmente, existem 98 projetos em andamento com a universidade, que envolvem cerca de 200 estudantes, mestres, doutores e professores.
Por conta da parceria, a Embraco conseguiu desenvolver o primeiro compressor com tecnologia própria. Do total de 1.700 patentes da Embraco, 237 foram registradas no Brasil.
Um fruto da parceria foi a construção do prédio para o Laboratório Polo, centro de pesquisa especializado em refrigeração da UFSC, em 2006. Ele recebeu investimento de US$ 3,5 milhões e abriga 100 pesquisadores.
Recentemente, a Embraco intensificou suas atividades de inovação aberta. A área de novos negócios da empresa passou a atuar como incubadora, gerenciando ideias, selecionando projetos e investindo até a produção-piloto.
O Nat.Genius, unidade de negócios especializada em reciclar equipamentos, foi criada nesse modelo. Com um ano e meio de operação, reciclou 500 mil compressores e descartou corretamente 160 mil eletrodomésticos.
“A unidade adota o conceito de economia circular”, afirma Pautasso. Foram reciclados 2 milhões de quilos de aço, 3,5 milhões de quilos de ferro, 70 mil quilos de alumínio, 500 mil quilos de cobre e 30 mil litros de óleo.
A Embraco investe de 3% a 4% de sua receita líquida anual em pesquisa e desenvolvimento. Com 40 laboratórios e mais de 600 pesquisadores, ficou em nono lugar no ranking Inovação Brasil 2016, do jornal Valor Econômico e da consultoria Strategy&.