Há mais de 100 anos, as utilities têm como foco de negócio a venda de um único serviço. Com a digitalização, isso mudou.
As novas tecnologias criam oportunidades para esses provedores oferecerem serviços inovadores, ao mesmo tempo em que entregam os tradicionais com segurança e confiabilidade – seja água, energia, gás ou iluminação.
Vale ressaltar que as companhias do setor foram (e são) pioneiras em aplicações específicas de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e no uso de dados para melhorar a operação.
Espera-se, por exemplo, a instalação de mais de 700 milhões de smart meters (medidores inteligentes) no mundo até 2020, segundo a Bloomberg New Energy Finance.
Outro resultado desse pioneirismo é o desenvolvimento global de redes de iluminação pública inteligente.
Segundo o IoT Analytics, as cinco cidades que possuíam mais luminárias conectadas até meados de 2018 eram:
- Miami, com 500 mil;
- Paris, com 280 mil;
- Madrid, com 225 mil;
- Los Angeles, com 165 mil, e
- Jacarta, com 140 mil.
Embora os países em desenvolvimento estejam um pouco mais lentos nessa trajetória, já vemos Jacarta (capital da Indonésia) entre os cinco primeiros, e a brasileira Belo Horizonte com a implantação de aproximadamente 30 mil luminárias conectadas.
Reduções de custos
Um dos principais benefícios buscados pelos países em desenvolvimento é aproveitar-se das reduções de custos trazidas pela tecnologia e, principalmente, das lições aprendidas pelo resto do mundo.
E não é apenas a IoT que vem trazendo novidades para o mercado.
Na energia elétrica, por exemplo, além da integração das redes de energia renovável a todo vapor (ou “a todo sol”), alterações na regulação e comercialização delas no Brasil demandarão altíssimo nível de controle de dados pelos agentes e órgãos reguladores.
Algumas mudanças na legislação recente são ainda iniciais, mas, se ampliadas a mais segmentos podem ter grande impacto, tais como a tarifa branca, que pode chegar a milhões de consumidores no futuro.
Com tantas tecnologias, atualizações regulatórias e novos serviços, as empresas possuem um imenso campo para obtenção de dados dos mais variados tipos:
- telemetria da rede elétrica e de iluminação,
- histórico de manutenções e ocorrências,
- controle geográfico de acidentes,
- comportamento dos consumidores,
- integração com automação etc.
Tratamento de dados
Com isso, a necessidade do tratamento de dados fica mais evidente, pois impacta o setor em diversos aspectos. Listo abaixo quatro deles:
- Estruturas para armazenamento de dados estruturados ou não em infraestrutura própria ou em tecnologias de nuvem que possibilitem diminuir o tempo de recuperação da informação;
- Organização e tratamento: habilitar o uso com o conceito self-service, onde as diversas áreas das empresas possuam a capacidade de analisar dados;
- Decisões inteligentes através da máquina: uso de algoritmos e ferramentas de machine learning e integração a sistemas de inteligência artificial;
- Governança e proteção dos dados: ter visibilidade do ciclo de vida da informação, curadoria e prevenção a falhas que possibilitem o vazamento de dados ou uso indevido.
Além de quantificar e priorizar os problemas de negócio a serem endereçados com uma cultura baseada em dados, a tecnologia também confere benefícios às aplicações já existentes, tais como:
- operações mais ágeis com gestão remota de dispositivos, como religadores, lâmpadas led e sensores;
- otimização de ações de manutenção por meio de predições e estudos preventivos;
- combate a perdas de receita – predições de furto;
- previsão de demanda de energia (demand forecast); e
- melhoria de atendimento e experiência do cliente.
Paralelamente a tudo isso, é importante se preparar também para gerenciar os dados de clientes sob a luz das leis de privacidade, como GDPR e LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados brasileira).
A lei brasileira entrará em vigor em 2020 e pode gerar grandes penalizações contra vazamentos de dados públicos de clientes.
Desafios de segurança
Diante desse cenário, os desafios de segurança sobem de patamar devido a maior digitalização das operações. É o trade-off natural do avanço tecnológico.
As empresas precisarão transformar a maneira como lidam com consumidores cada vez mais digitalizados, conectados e urbanos.
Considerando os desafios de evolução de rentabilidade e faturamento nos diversos subsegmentos desse mercado, é evidente que a adoção de tecnologias, e principalmente a explosão dos dados, precisa acontecer de forma rápida, mas com cautela nas mudanças de processos e com precisão na gestão de segurança e proteção dos dados.
- Marcos Ablas é consultor do segmento de Utilities da Logicalis