As mulheres ainda são minoria no mercado de tecnologia do mundo inteiro. Elas ocupam apenas 24% dos postos de trabalho em empresas de tecnologia de todo o mundo, segundo dados da CompTIA, associação do setor de Tecnologia da Informação (TI).
A disparidade aumenta em cargos de liderança, onde as mulheres ocupam 8% das posições de chefias, como CEO. No Brasil, o cenário masculino se repete, mas o esforços de professoras, empreendedoras, estudantes e profissionais de TI busca mudá-lo.
Andrea Paiva é coordenadora de dois cursos de MBA em TI da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap). Ela conta que 83% dos estudantes neste ano são homens. A procura dos cursos por mulheres, no entanto, começa a crescer.
“Quando eu comecei a dar aula, há dez anos, o cenário era bem pior. Havia pouquíssimas professoras e cerca de uma aluna por sala. Hoje vemos que a maioria das mulheres que procuram pós-graduação ligadas à gestão. Elas estão insistindo para chegar ao topo, mesmo que ainda estejamos longe de ser a metade no quadro de funcionários de uma empresa de tecnologia”, explica.
Trajetória
A pouca participação em cursos de graduação pode ser explicada pela falta de incentivo no início da história escolar, segundo afirma o Leonard Wadewitz, diretor da CompTIA na América Latina e México. “As meninas são pouco estimuladas a estudar matemática, ciência e tecnologia nas escolas”, ressalta Wadewitz.
Pensando em diminuir essa lacuna, multinacionais de tecnologia como Google, Intel, Microsoft e Pinterest têm apostado em programas de incentivo a mulheres que desejam começar a programar.
Em São Paulo, por exemplo, interessadas em programação podem participar dos vários encontros do Google Women Techmakers (WTM), um grupo formado por mulheres que possuem mentoria do Google.
“O WTM, em particular, promove a visibilidade e empoderamento feminino dentro da tecnologia. Não só programadoras, mas sim todas as mulheres que se interessam pela área. O nosso grupo segue bem misto com jornalistas, business intelligence, gerentes de projetos, designers e analistas de negócios.”, explica a líder do Google Women Techmakers em São Paulo, Thuany Serpa.
O PrograMaria.org é outro projeto que procura estimular mulheres a dar os primeiros passos no mundo da computação de forma gratuita. O projeto foi fundado por jornalistas e designers com vontade de aprender a linguagem, mas que não contavam com apoio em seus estudos.
“Além de mostrar exemplos e projetos a fim de inspirar mulheres para que se sintam motivadas e confiantes a explorar os campos da tecnologia, queremos qualificar e fomentar o debate sobre a questão de gênero e a hostilidade que as mulheres encontram na área, além de promover oportunidades e ferramentas de aprendizagem para desmistificar esse universo e conectar mulheres com empresas”, explica Iana Chan, uma das líderes do PrograMaria.
Empreendedorismo
O isolamento de mulheres em empresas de tecnologia é visto de perto até por quem já alcançou o posto mais alto de uma startup. Desde o ano passado, quando fundou a empresa 33e34, um site dedicado à venda de sapatos de numeração baixa, Tânia Gomes tem passado os eventos e fóruns sobre tecnologia sem companhia feminina.
“Frequentemente sou chamada a ir a eventos e me sinto isolada. É muito raro encontrar mulheres em eventos que não são destinado apenas para o público feminino. Mas eu não me intimido e me posiciono no mercado como CEO, que é o que eu sou mesmo”, diz.
A questão de gênero, no entanto, sempre foi pensado pela empreendedora que começou a carreira profissional na indústria de automóveis, outra área predominantemente masculina.
“Desde sempre eu tive muito cuidado para não colocar meu gênero como dificuldade no meu trabalho. A dica que eu dou para quem está começando é: estude um pouco antes de reuniões técnicas, caso você não saiba muito sobre o assunto, converse com os grupos de mulheres de tecnologia e sempre tenha por perto mentores para ajudá-la”, diz Gomes.
Ainda com todos esses cuidados a empreendedora conta que já precisou levar dois sócios, homens, para fechar um acordo de trabalho. “A indústria calçadista ainda é muito machista, às vezes eles exigem que exista um homem dentro do processo”, conclui.
A advogada Paula Tonani destaca o aumento do número de mulheres empreendedoras no setor. “O mercado de tecnologia sempre foi predominantemente masculino, ainda existe algum preconceito em relação às mulheres que almejam se firmar neste mercado. Mas percebe-se que, pouco a pouco, elas estão conquistando seu espaço nesse mercado”, afirma Tonani.