Há uma variedade de pesquisas recentes sobre um tema que apenas começa a emergir nas discussões sobre políticas públicas e emprego: o papel da inteligência artificial no futuro do trabalho.
Os cenários desenhados variam muito. Um estudo recente do Gartner indica que, até 2020, mais empregos serão criados pela evolução de diversas frentes de inteligência artificial (2,3 milhões), do que eliminados por ela (1,8 milhão), e que essa tendência seguirá o mesmo padrão na próxima década.
Os números são pálidos em comparação a um estudo igualmente recente de outra consultoria respeitada, o McKinsey Global Institute, que avaliou 800 profissões em 46 países, concluindo que um quinto de todos os empregos do mundo poderão ser automatizados nos próximos 12 anos.
Apenas nos Estados Unidos, segundo o instituto, de 39 a 73 milhões de vagas poderão desaparecer.
A McKinsey também afirma que novas vagas e profissões serão criadas, mas diverge do Gartner ao destacar que elas virão numa proporção menor e com exigências de treinamento diferentes dos empregos eliminados.
Outros pensadores e especialistas respeitados em tecnologia, tais como Elon Musk, da Tesla e SpaceX, e o fundador do fundo Sinovation Ventures, um dos mais importantes da Ásia, Kai-Fu Lee, acreditam que a velocidade de evolução da inteligência artificial é exponencial, e que não apenas 50% dos empregos serão eliminados nos próximos 20 anos, mas que a própria natureza do que chamamos de trabalho vai mudar.
Um sinal claro desse impacto vem nos números abaixo, que mostram a evolução do emprego na indústria de tecnologia da Índia, entre abril de 2016 a setembro de 2017.
Eles sinalizam que a demanda por vagas simplesmente parou de crescer, muito mais pela automação do que pela situação econômica.
Empresa | Funcionários em 30/9/2017 | Adições líquidas de 4/2017 a 9/2017 | Funcionários em 30/9/2016 | Adições líquidas de 4/2016 a 9/2016 |
TCS | 389.213 | 1.990 | 371.519 | 17.676 |
Cognizant | 256.100 | -5.100 | 255.800 | 22.800 |
Infosys | 198.440 | -1.924 | 199.829 | 5.785 |
Wipro | 163.759 | -1.722 | 159.791 | 1.326 |
HCL | 119.040 | 3.067 | 109.795 | 4.899 |
Tech M | 117.225 | -468 | 112.886 | 7.454 |
Total | -4.157 | 59.940 |
Fonte: Resultados financeiros das empresas
Varejo e distribuição
Ainda que seja difícil compreender o impacto completo da inteligência artificial, há alguns pontos previsíveis a partir das análises que temos.
Profissões que são a porta de entrada do mercado de trabalho para milhões de profissionais certamente serão as mais atingidas.
Caixas e atendentes de fast foods, recepcionistas e secretárias, agentes de call center, técnicos de back office e até motoristas de caminhão terão cada vez menos vagas à disposição.
De fato, toda a cadeia de varejo e distribuição, da produção ao armazenamento, do transporte à venda ao consumidor final, passam por uma revolução que mudará sua natureza e eliminará milhões de empregos.
Mas os exemplos, mais ou menos incertos, são menos importantes do que as ações públicas e privadas para lidar com eles.
Enquanto os países mais ricos do mundo discutem uma renda mínima universal para lidar com os efeitos de um novo mercado de trabalho, nós ainda não conseguimos caminhar na tarefa mais básica de equalizar uma Previdência que se tornará cada vez mais insustentável, por duas razões simples entre todas as outras já apresentadas:
- a quantidade de empregos formais vai continuar caindo,
- os empregos parciais ou “uberizados” vão se tornar a grande força do mercado de trabalho.
A natureza do emprego já está mudando e, por isso, não podemos deixar este assunto para depois.
É hora de refletir sobre as revoluções que estamos vivenciando e de que forma a tecnologia poderá auxiliar as pessoas neste momento de transição. Embora incertezas existam, as possibilidades são infinitamente maiores.
- Alex Winetzki é diretor de pesquisa e desenvolvimento da Stefanini
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