‘Empreender não é uma tarefa fácil’

Gurus que nunca empreenderam servem de referência para um número impressionante de seguidores / Gabriel Millos/Creative Commons
Compartilhe

Gurus que nunca empreenderam servem de referência para um número impressionante de seguidores / Gabriel Millos/Creative Commons
Gurus que nunca empreenderam têm um número impressionante de seguidores / Gabriel Millos/Creative Commons

Viagens de aventura em motocicleta ocupam o imaginário de muitas pessoas. E, quando falamos desse tipo de viagem, tipicamente existem duas tribos: uma que prefere planejar e realizar suas viagens por conta própria, de forma autônoma e sem grande suporte operacional, e aquela que prefere uma versão mais suave da aventura, contratando carros de apoio, veículos para carregar suas bagagens e que, geralmente, percorre apenas trechos de estradas lendárias com o intuito de registrar em belas fotos que um dia estiveram ali, mas sem jamais ter tido a experiência de vivenciar a estrada na sua plenitude.
É impressionante a semelhança com o empreendedorismo brasileiro nos dias atuais. De um lado, temos a tribo dos empreendedores de palco e seus seguidores. Gurus que nunca empreenderam um negócio de verdade e que, por incrível que pareça, acabam servindo de referência para um número impressionante de seguidores, que se inspiram por mensagens motivacionais profundas como um pires.
E, de outro lado, temos aqueles que não estão nas páginas de jornais e revistas, mas que fazem o movimento empreendedor brasileiro acontecer de fato, criando negócios e empregos reais e produzindo riqueza de verdade. Em outras palavras, vivenciando o empreendedorismo em sua plenitude.
Talvez, assim como no motociclismo de aventura, o empreendedorismo de boutique tenha tantos seguidores porque elimina as dificuldades do caminho.

Preço alto

Empreendedorismo: Allan Costa / Divulgação
Allan Costa / Divulgação

É claro que a recompensa de atravessar estradas lendárias como a Rota Transiberiana, na Rússia, a Rota 66, nos Estados Unidos, ou a Carretera de la Muerte, na Bolívia, por conta própria, traz experiências e aprendizados incomparáveis. Mas também cobra um preço relativamente alto, que nem todos estão dispostos a pagar.
Da mesma forma, empreender é maravilhoso e recompensador, mas não é para todo mundo e cobra um preço alto. As dificuldades que o empreendedor enfrenta são muitas.
Começa com o ambiente de negócios hostil existente no Brasil, personificado na burocracia, na elevada carga tributária e na inexistência de mecanismos de crédito apropriados. Continua na dedicação e no comprometimento necessários para criar uma empresa de sucesso:

  • identificar uma oportunidade ou um problema a resolver;
  • transformar a ideia em algo concreto;
  • conseguir fontes de recursos para financiar a criação e a expansão do negócio;
  • ter estômago para suportar as inconstâncias do mercado;
  • domar o medo e a ansiedade envolvidos no enfrentamento dos riscos inerentes a qualquer empreendimento; e
  • lutar diariamente para fazer o negócio dar certo e para bater metas.

Não é uma tarefa fácil. Mas como empreender parece estar cercado de uma aura mágica que atrai cada vez mais interessados, o empreendedorismo de palco ocupa essa lacuna e torna acessível a um número muito maior de pessoas a ilusão de que é possível empreender sem a necessidade de pagar o preço envolvido.
Não necessariamente uma escolha é melhor do que a outra. Mas no motociclismo, as melhores paisagens jamais se revelam àqueles que se contentam em percorrer as trilhas mais percorridas.
Na vida empreendedora, acontece a mesma coisa. De fato, existem coisas que só o empreendedorismo pode proporcionar: realização plena, conquista de autonomia e construção de legado, para citar algumas.
Mas para isso, é preciso estar disposto a pagar o preço. Afinal, palavras bonitas e histórias motivacionais podem parecer atraentes no palco e criar uma romântica ilusão sobre como é fácil e bonito empreender, mas dificilmente constroem algo que, no futuro, possa constituir um legado autêntico que seja motivo de orgulho.

  • Allan Costa é palestrante, empreendedor, investidor-anjo, mentor de startups e apaixonado por motociclismo.

Compartilhe
Previous Article

O que falta para o Brasil ingressar na era da indústria 4.0

Next Article

No Brasil, a internet das coisas está só começando

You might be interested in …

Rico Araujo, da Yuny Lab, e Felipe Lima, da In Build, conversaram sobre realidade aumentada em vídeo da série Quem Inova

Yuny aplica realidade aumentada ao setor imobiliário

Compartilhe

CompartilheEm sua iniciativa de inovação aberta, a Yuny Incorporadora investiu na InBuilt, que desenvolve soluções de realidade aumentada para o setor imobiliário. O aplicativo da InBuilt permite que os clientes da Yuny possam ver por […]


Compartilhe