Quando Juscelino Kubitschek foi eleito presidente em 1955, prometeu que faria o Brasil crescer “50 anos em 5”.
Seu ousado Plano de Metas era baseado em 30 objetivos desenvolvimentistas a serem realizados em cinco anos que colocaram o Brasil, definitivamente, na rota do progresso.
À época, os processos de industrialização e desenvolvimento econômico foram acelerados pela ação dos setores público e privado.
A transformação industrial dos anos 50/60 foi forçada, porém foi planejada.
Agora passamos por uma transformação forçada, mas não planejada, que começou há pelo menos uma década.
E, por mais sinais das mudanças que a tecnologia impunha no consumo e nas pessoas, se dava de forma lenta, quase letárgica.
Transformação causada pela pandemia
A pandemia da covid-19 pressionou empresas, comércios, profissionais e o próprio consumidor a mergulhar no mundo digital, e muito rápido.
Em poucos meses, o sistema home office de trabalho foi parcialmente regulado e viabilizado.
Uma pesquisa realizada pela revista The Economist mostra que, para os próximos anos, haverá redução de pelo menos 10% na ocupação de escritórios nas grandes cidades do mundo.
O trabalho de forma híbrida pode se tornar uma opção para muitas empresas, viagens de negócios podem dar lugar a videoconferências com muito mais frequência.
Mas as leis trabalhistas ainda terão que se adaptar e a tecnologia precisará ser mais potente para suportar a qualidade e a segurança que essa mudança exige.
Muito ainda vamos evoluir no entendimento da jornada de trabalho remoto para evitar a fadiga, manter a produtividade e preservar a cultura organizacional dos times.
Foi um ano muito pesado, tenso, sofrido – de muitas perdas que não serão esquecidas – mas a transformação digital que 2020 nos trouxe irá, com certeza, moldar os próximos anos.
Desenvolvimento dos mercados
2020, o ano que puxou ou empurrou todo o mundo empresarial.
Muitos abriram suas gavetas e tiraram aqueles projetos que tinham ficado “para daqui a pouco”, aqueles processos “que exigiam reorganização de times”, aquelas plataformas “que precisavam de investimento”.
Porém muitos, infelizmente, não os tinham na gaveta.
Em 2020, negócios não digitais se digitalizaram.
O mercado de TI brasileiro apresentou um crescimento de mais de 12%.
Dados do Google mostram que, no ano, houve aumento de cinco vezes nos pagamentos por meios digitais do varejo; de 112% nos pedidos de compra online; e o e-commerce faturou 104% a mais que em 2019.
Novos consumidores digitais entraram neste mercado: 24% dos compradores online fizeram uma compra pela primeira vez em 2020.
No total, foram 10,2 milhões de novos compradores online em todo o Brasil.
A movimentação no setor financeiro também escancarou essa transformação. 74% das transações financeiras no Brasil foram realizadas por meio de canais digitais.
Ao disponibilizar o auxílio emergencial para 63,5 milhões de brasileiros via meios digitais, o governo federal estimulou a bancarização da população, incluindo das classes mais baixas, o que gerou um crescimento exponencial no número de transações bancárias digitais desde pagamentos de contas até as compras online.
Digitalização das empresas
A urgência da transformação digital acertou em cheio empresas grandes e pequenas, de praticamente todos os segmentos, de mercados consolidados ou emergentes.
Segundo o IBGE, 522 mil empresas fecharam.
Segmentos como turismo, alimentação e atividades físicas ainda levarão um tempo para se recuperar, até mesmo o setor de tecnologia sentiu a crise e se viu obrigado a remodelar produtos e negócios rapidamente.
Por outro lado, 2020 foi o ano com o maior número de IPOs dos últimos 13 anos, segundo a B3.
Apesar de a pandemia ter paralisado o mercado de capitais várias vezes (foram seis circuit breakers, ou seja, parada das negociações), o ano foi favorável para as empresas abrirem seu capital na bolsa de valores brasileira.
Isso porque, com a queda de juros, o número de pessoas físicas investindo na bolsa triplicou.
Essa tendência deve perdurar se os juros continuarem baixos e dependendo das questões fiscais a serem impostas pelo governo.
Para além da economia
Questões éticas e sociais tiveram destaque.
A diversidade esteve em voga muitas vezes no ano, em diferentes eixos.
A luta contra o racismo foi muitas vezes abordada em movimentos mundiais como o “Black Lives Matter” ou em movimentos nacionais como na discussão sobre o programa trainee do Magazine Luiza exclusivo para negros.
E também muitas vezes questionada, apesar de os números mostrarem a imensa desigualdade de oportunidades.
Pela primeira vez as mulheres quebraram algumas barreiras no mercado corporativo e chegamos ao final de 2020 com pelo menos uma mulher no conselho de administração de cada companhia listada no S&P 500 da Bolsa de Nova York.
O esforço por mais mulheres nos conselhos tem sido uma constante nas nossas vidas e para ocuparmos um espaço importante na tomada de decisões.
Enfim, 2020 nos trouxe muitos aprendizados, muito esforço, muita adaptação e quebra de paradigmas.
O equilíbrio entre a saúde e a economia nos fez pensar sobre o equilíbrio entre nossa vida pessoal e profissional.
E com esse olhar e tantos números, entramos em 2021.
Mas se você achou que o título desse artigo – 10 anos em 1 – era sobre 2020, espere o final desse novo ano.
2021 será o ano da transformação digital ainda mais acelerada.
É sua chance de fazê-la de forma planejada.
Quanto você e sua empresa estão preparados?
- Cris Alessi é presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação