Vivemos na era da economia digital, da chamada Quarta Revolução Industrial, em que a automação foi acrescida de integração total das tecnologias digitais permeando todos os setores.
Ela é percebida na influência do e-commerce, no setor de serviços – os bancos digitais são um exemplo – e na indústria, chamada hoje de 4.0, com a introdução de robôs, sensores, big data e inteligência artificial aos sistemas de manufatura.
Mas toda essa revolução não acontece e nem se desenvolve se não nos atentarmos para a evolução do capital humano, que torna tudo isso possível.
Bem como nas outras três revoluções industriais, no passado também se temeu pelo que aconteceria com o mundo do trabalho.
Profissões, até então fundamentais, foram se tornando obsoletas.
Porém, o que vimos no curso da história é que cada uma das “revoluções” gerou oportunidades e novas competências profissionais.
Transformação da indústria
No percurso dessa transformação, além dos investimentos em novas tecnologias, é preciso refletir sobre uma questão chave: como estamos adquirindo e desenvolvendo as competências necessárias nas pessoas que vão atuar neste novo cenário?
Com a indústria 4.0, cria-se uma indústria de dados e as habilidades para operar nesse ambiente mudam significativamente.
Pesquisa recente divulgada pela consultoria McKinsey afirma que a demanda na Europa e nos Estados Unidos por atividades físicas e manuais vai reduzir em 30% na próxima década.
Por outro lado, a necessidade por habilidades tecnológicas deve aumentar em 50%.
Big data, computação em nuvem, aprendizado de máquina e inteligência artificial, entre tantos outros avanços, são uma tendência irreversível.
Os profissionais e empresas que as dominarem saem na frente.
Assim, além de adquirir novas competências, é fundamental gerir o conhecimento e o capital intelectual existente nas empresas.
É preciso identificar as pessoas certas e investir na capacitação da mão-de-obra atual, bem como compreender as transformações e seus impactos nas equipes, considerando as diferentes faixas etárias e gerações.
Ou seja, não se trata apenas de contratar novos talentos portadores das habilidades tecnológicas necessárias a esta conjuntura.
O desenvolvimento do capital humano e a cultura empresarial caminham lado a lado e, por isso, é essencial exercitar a mentalidade e por em prática a educação continuada.
Os talentos dentro da empresa precisam ser encorajados a estudar novos conceitos e a aprender continuamente ao longo de sua vida, seja por meio do ensino formal ou por treinamentos estruturados na empresa.
Estímulo às pessoas
Para progredir neste ambiente 4.0 é preciso, ainda, criar um ambiente de estímulo ao empreendedorismo, ao compartilhamento do conhecimento e à criatividade dos colaboradores.
Estimular a competição saudável de ideias entre os funcionários e seu consequente reconhecimento – contando com o apoio irrestrito da alta liderança da empresa – é uma ótima maneira de incentivar as pessoas envolvidas no dia a dia do trabalho a encontrar soluções inovadoras para problemas internos ou para necessidades dos clientes.
O intercâmbio de informações com entidades além dos muros da empresa também é fundamental.
A cooperação com universidades e outras instituições de fomento à inovação, como iniciativas de inovação aberta e organizações de pesquisa nacionais e internacionais, é capaz de promover um networking valioso para alimentar o pensamento empreendedor e visionário de colaboradores e parceiros.
Ideias, networking, empreendedorismo, colaboração.
Ainda não inventaram um robô capaz de cumprir esses objetivos.
A dedicação e o trabalho humano continuarão sendo essenciais na economia digital.
Portanto, investir na educação e no treinamento das competências que são e serão necessárias nessa jornada da transformação digital é primordial para se criar valor e, de fato, aproveitar as oportunidades.
Rumo à economia digital
O grande desafio das empresas que estão aderindo e desenvolvendo a transformação digital reside na cultura empresarial.
O sucesso continuado ao longo dos anos tende a colocar a organização em zona de conforto, erodir a impetuosidade e a inovação disruptiva.
Isso traz uma certa miopia e maior resistência às mudanças.
Corre-se o risco de se tornar refém dos fatos bem-sucedidos no passado. Porém, para se transformar, muitas vezes é preciso renunciar aos elementos que trouxeram sucesso, a fim de poder abraçar os novos.
Não é fácil.
Sabemos que não necessariamente o que nos trouxe sucesso até agora é o que vai nos levar a diante.
Assim, a transformação cultural deve fazer parte da agenda da alta gestão de forma contínua e prioritária.
- Paulo Alvarenga é CEO da thyssenkrupp na América do Sul