Em São Paulo, laboratório leva inovação ao Judiciário

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Em São Paulo, laboratório leva inovação ao setor judiciário
iJuspLab busca reunir servidores em iniciativa da inovação / Divulgação

O Laboratório de Inovação da Justiça Federal de São Paulo (iJuspLab) tem transformado o setor judiciário brasileiro.

Primeiro do Brasil, o laboratório mostrou as possibilidades de inovação na Justiça e entusiasmou outros tribunais, fóruns e departamentos públicos.

“Entusiasmamos outros tribunais a seguirem o caminho da inovação. É algo muito positivo”, diz Caio Moysés de Lima, vice-diretor do Foro da Seção Judiciária de São Paulo e um dos responsáveis pelo iJuspLab, ao inova.jor.

Parte dessa experiência foi registrada no livro Inovação no Judiciário, que pode ser baixado gratuitamente.

Abaixo, confira os principais trechos da conversa com o juiz Caio Moysés.

De onde veio a ideia de abrir um laboratório de inovação da Justiça?

Caio Moysés de Lima é um dos responsáveis pelo iJuspLab / Divulgação
Caio Moysés de Lima é um dos responsáveis pelo iJuspLab / Divulgação

A ideia surgiu a partir dos juízes Paulo Cezar Neves Junior e Luciana Ortiz Tavares Costa Zanoni. Ela estava concluindo o mestrado quando teve contato com laboratórios de inovação. Nisso, os dois, que faziam parte da diretoria do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, baixaram uma portaria para instituir o laboratório e começar a trabalhar melhor na ideia.

Assim, o Laboratório de Inovação da Justiça Federal de São Paulo (iJuspLab) foi lançado em 2017. Fomos os primeiros a criar um laboratório assim, nessa área. De certa forma, desbravamos esse caminho aqui no Judiciário.

De lá pra cá, o que você destaca de iniciativas do iJuspLab?

Primeiramente, nosso laboratório era mais voltado para a administração da Justiça. Como gestão de prédios, pessoas e orçamentos. Depois, acabou se tornando também espaço para discussão de inovação na parte processual.

Nós, por exemplo, elaboramos um projeto de reestruturação dos serviços cartorários na Justiça. Com a chegada do processo eletrônico, é hora de eliminar burocracias e enxugar a organização. Esse projeto recebeu o nome de Programa e-Vara e está sendo implantado em caráter piloto em Santos.

Há também inovação tecnológica sendo aplicada?

Isso começou em 2018. Não fizemos antes pois achávamos que era necessário primeiro consolidar o laboratório para depois trabalharmos com tecnologia. O primeiro projeto com tecnologia aplicada teve o objetivo de resolver um problema que afeta a vida dos servidores na Justiça Federal de São Paulo que desejam mudar de cidade.

É comum os servidores pedirem transferência mas não conseguirem, porque precisamos preservar a força de trabalho em todas as varas federais do estado. Muitas dessas transferências somente são possíveis com triangulação, para não afetar o número de servidores de cada localidade. Mas como temos mais de 4 mil servidores em atividade isso é muito difícil de fazer manualmente.

O iJuspLab, então, fez o protótipo de um sistema de movimentação utilizando um algoritmo que faz a triangulação de preferências dos servidores e trabalha para manter um equilíbrio em
todo o sistema. Depois, entregamos isso para a área de tecnologia da informação (TI), que desenvolveu um novo módulo para o nosso sistema de recursos humanos (RH). Esse módulo está agora em fase avançada de testes e nos ajudará muito quando entrar em funcionamento.

Mudou a forma como a Justiça encara a inovação?

O Judiciário tem dificuldade na inovação por conta de uma hierarquia muito rígida. Mas o laboratório ajuda a causar uma mudança cultural muito forte, horizontalizando as relações. Criamos um movimento.

É um privilégio ver um processo de mudança cultural. Os juízes atuam junto com os servidores, todos se tratam como iguais. As ideias são recebidas com igual consideração.

Há um engajamento muito forte. A cultura da inovação é algo enorme. Por isso, sempre destaco que o iJuspLab está dando certo por conta de uma visão mais abrangente da inovação que está acontecendo.

Afinal, hoje, o laboratório se insere nessa estrutura nova de governança, por meio de uma lógica de transparência total. Se não fosse essa mudança, o laboratório não iria adiantar de nada. Seria só uma sala de convivência.

E como é a divisão de equipes dentro do iJuspLab?

Temos uma equipe de 12 laboratoristas, que atuam como voluntários, atuando nas oficinas de design. Na área de tecnologia, são duas equipes: a de gestão de dados e a incubadora de soluções tecnológicas. Essa última vem da ideia de incubadoras de startups e tem por intuito fomentar a inovação tecnológica, já que a TI não é um ambiente propício para inovação. Lideramos os processos e depois vemos, com a equipe de TI, se é viável a implantação. Ou seja: trabalhamos com a prototipação de sistemas e de tecnologias e depois ele é viabilizado.

Já a equipe de gestão de dados é formada por 24 voluntários do judiciário. Essa equipe faz um aconselhamento interno e cria projetos para gestão dos dados que são gerados na atividade da administração. Inicialmente, a maioria dos membros da equipe não conhecia nada de tecnologia. Muitos nem sabiam mexer no Excel. Fizemos um processo de capacitação e hoje já temos projetos de alta qualidade.

Quais são os planos futuros para o laboratório?

Agora estamos buscando implementar um programa de inovação aberta, algo que faz parte do DNA do iJuspLab. Assim, nossa ideia é abrir o laboratório para o mundo externo. Para isso, já estamos em negociação com órgãos e universidades para tocarmos esse novo momentos juntos.

As universidades, por exemplo, podem fazer pesquisas, vir para o ambiente interno e, inclusive, dividir resultados de pesquisas conosco. Tudo de forma segura, com dados compartilhados pela própria Justiça. É bom para todos.

Por fim, criamos um centro interno de estudos em inteligência artificial e jurimetria, que é uma área de estudos voltada à coleta de dados empíricos da atividade judicial e transformação desses dados em medidas objetivas que forneçam uma fotografia do Poder Judiciário.

Quanto à inteligência artificial, essa é uma área que já está fazendo a diferença em grandes escritórios de advocacia. Precisamos entrar nisso. É como se os outros tivessem já o computador e nós estivéssemos ainda com máquinas de escrever. Não podemos ficar pra trás. Nós temos que explorar e dominar essa tecnologia para ficarmos num nível adequado. 


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