A inventora Elizabeth Holmes tinha 19 anos quando fundou sua startup, a Theranos. Largou Stanford e foi tentar revolucionar o sistema de saúde com exames de sangue feitos apenas com um furo no dedo. E nada mais.
No entanto, o sonho de Holmes era uma mentira. Anos depois, quando o valor da startup batia na casa dos US$ 10 bilhões, descobriu-se que nada ali funcionava. Não tinha como usar apenas uma gota de sangue em exames.
É sobre este tema que se debruça o documentário A Inventora, nova produção original da HBO. Dirigido por Alex Gibney (A Mentira Armstrong), o filme é uma espécie de Fyre Festival do Vale do Silício.
Afinal, ao longo de seus 119 minutos, o documentário se esforça em mostrar como Holmes conseguiu crescer em cima de uma mentira. E mais: como pessoas poderosas, incluindo empreendedores, caíram nessa tal mentira.
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No entanto, mais do que a história ao estilo comédia de erros, o que chama a atenção é como Gibney constrói a ambientação. Como a startup foi parar nesses US$ 10 bilhões? O que há no Vale do Silício que proporcionou isso?
Assim, por meio de bons depoimentos, o cineasta vai traçando esses caminhos. A confiança exacerbada numa ideia, os contatos poderosos, toda a necessidade de se apostar numa ideia e não no produto consolidado.
Além disso, traz depoimentos importantes de pessoas que trabalhavam para a Theranos. Ela relatam o clima interno da startup, recorrente no Vale, que propicia boas ideias, mas pode acabar batendo numa barreira difícil.
Esta é uma problematização extremamente importante a ser feita. Como ressaltado por alguns entrevistados, fala-se muito dos louros da inovação e do empreendedorismo. De como isso tem revolucionado o mundo.
Mas e os erros? As falhas? E, principalmente, toda a cultura prejudicial e um pouco violenta que é criada no empreendedorismo? Ações de Elizabeth chegaram a causar, indiretamente, o suicídio de um de seus funcionários.
São discussões necessárias e que possuem bom reflexo quando bem apresentadas no cinema e na TV. Afinal, o debate que surge a partir disso é ainda mais importante.
A Inventora
Assim, neste ponto, também deve-se falar de outra ponto de A Inventora: a personalidade de Elizabeth Holmes. Não é fácil falar sobre ela, já que negou entrevistas para Gibney.
No entanto, o cineasta, experiente em se aprofundar em mentiras, se vale de um bom conjunto de material de arquivo. Contrapõe mentiras com bons depoimentos. É o jeito que ele encontrou de desconstruir a personagem.
É possível que algumas pessoas fiquem desconfortáveis por não ter o “outro lado”. A visão de Holmes sobre isso ou de pessoas que ainda trabalhem ao seu lado — afinal, ainda é empreendedora e busca resgatar credibilidade.
Mas também é preciso lembrar que documentários podem ter lado. Não são matérias jornalísticas. E, ainda assim, Gibney exibe os argumentos de Holmes e os desconstrói. Passo a passo. E com muita elegância.
Ao final, fica toda a reflexão e a importância de se trazer uma história que não seja de sucesso. Mostra para as pessoas, que sonham e idealizam algo, que pode acontecer de tudo no caminho do empreendedorismo. Até no Vale do Silício.
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