Como está a experiência brasileira em telessaúde

A professora Ana Estela Haddad falou sobre telessaúde em Washington / Divulgação
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A professora Ana Estela Haddad falou sobre telessaúde em Washington / Divulgação
A professora Ana Estela Haddad falou sobre telessaúde em Washington / Divulgação

A experiência brasileira em telessaúde foi um dos destaques da reunião da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), realizada na semana passada em Washington.

A Opas está interessada em produzir conhecimento e difundir experiências sobre o potencial das tecnologias de informação e comunicação e dos sistemas de informação para o acesso da saúde a populações em situação de vulnerabilidade, com ênfase na população indígena.

Ana Estela Haddad, professora de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), e o professor Ary Messina, Coordenador da Rede Universitária de Telemedicina, ligada ao ministério de Ciência e Tecnologia, foram os convidados brasileiros responsáveis por apresentar a experiência do Brasil em telessaúde desenvolvida nos últimos 12 anos, composta, na prática, pela Rede Universitária de Telemedicina (Rute), Programa Telessaúde Brasil Redes e Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS).

A iniciativa do encontro foi do Departamento de Evidência e Inteligência para Ações em Saúde da Opas, conduzida pelo doutor Marcelo D’Agostino.

A professora Ana Estela Haddad conversou com o inova.jor sobre a reunião e sobre a situação da telessaúde no Brasil.

A seguir, trechos da entrevista.

Como foi a participação brasileira na reunião?

Fui diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, quando o Programa Telessaúde Brasil Redes foi criado e implementado.

Em 2011, o Programa Telessaúde Brasil recebeu o reconhecimento formal da Opas como modelo de sucesso para implementação em outros países da América Latina e Caribe.

Nossas apresentações tiveram destaque e chamaram a atenção pelo fato de termos experiência ampla, intersetorial, pública e vinculada às políticas de saúde, educação e ciência e tecnologia, num país de dimensões continentais, com grandes desafios geográficos, e quando o programa se iniciou, também de conectividade.

O Brasil talvez tenha uma das maiores e mais amplas experiências de telessaúde como política pública.

A experiência de casos internacionais apresentados na reunião poderia ser aproveitada por aqui?

O Canadá, país com o qual desenvolvemos cooperação pelo Ministério da Saúde na época de implementação do Programa Telessaúde Brasil, tem uma experiência bastante avançada, tanto com populações indígenas, como com a implementação do prontuário eletrônico e o estabelecimento de padrões e avaliação de ações de telessaúde.

Embora não estivesse representado nesta reunião da Opas, o Canadá está aportando um recurso financeiro para apoiar esta ação da Opas e para a elaboração do documento que resultará da reunião.

Entre os países que tiveram representação na reunião esteve a Espanha, Universidade da Catalunya, que é uma universidade totalmente virtual, tendo estudado o uso e aplicação das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em muitas áreas do conhecimento, incluindo a telemedicina.

Eles criaram um mestrado em telemedicina e entre os temas de investigação estão incluindo mobile health (m-health), medicina robótica e inteligência artificial.

O Hospital Italiano consiste de uma rede de 23 centros interconectados, pela região metropolitana de Buenos Aires, com 4 milhões de usuários cadastrados, diferenciando-se pelo sistema de informação implementado, certificado pela HIMSS (sigla de Healthcare Information and Management Systems Society) no nível 7.

Como foi a discussão sobre acesso da saúde a populações em situação de vulnerabilidade?

Participou da reunião a doutora Sandra del Pino, do Departamento de Gênero, Equidade e Diversidade Cultural.

Quando se fala em vulnerabilidade, está se referindo a um amplo espectro de situações que incluem além de povos indígenas, afrodescendentes, migrantes e pessoas em privação de liberdade.

Considerando o uso da saúde digital para o acesso de povos indígenas, foram propostas cinco linhas estratégicas: geração de evidências; políticas interculturais; participação social e alianças estratégicas; integração entre medicina tradicional e complementar; e capacitação dos profissionais de saúde.

Qual é o significado de interculturalidade no contexto da saúde digital?

A interculturalidade aponta para o diálogo de saberes e entre os povos e acima de tudo o respeito a diferentes culturas. A telemedicina, telessaúde, saúde digital podem funcionar como ferramenta facilitadora do acesso à saúde para populações em situação de vulnerabilidade, mas também de sensibilização dos profissionais de saúde com relação à interculturalidade.

Que medidas o Brasil poderia tomar para que houvesse um impacto positivo maior na área de saúde digital?

O Brasil avançou em muitas áreas, e talvez uma maior articulação entre elas poderia potencializar o seu alcance.

Além dos programas aqui mencionados, a universalização da implementação do prontuário eletrônico seria um passo muito importante.

O Comitê Gestor da Internet no Brasil tem feito um trabalho de grande importância. Em especial, vale citar o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR e o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), que têm desenvolvido uma série histórica de pesquisas sobre a evolução do uso da internet no Brasil.

Entre as várias pesquisas está o TIC Saúde, cujos dados e sua análise tem trazido relevantes contribuições para orientar os tomadores de decisões em políticas públicas de saúde.


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