Para além da moda do casamento de grandes empresas com startups

A construção conjunta envolve dedicação e valorização dos detalhes que são construídos um a um / Giorgio Montersino/Creative Commons
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Startups: A construção conjunta envolve dedicação e valorização dos detalhes que são construídos um a um / Giorgio Montersino/Creative Commons
É preciso criar um ambiente estimulante, autônomo e desafiador / Giorgio Montersino

Trabalhar com as startups virou uma obsessão para as grandes empresas. No entanto, esse tipo de iniciativa realmente traria resultados? Qual o valor agregado das startups? Qual seria o grande diferencial destas empresas nascentes? O que dizem as práticas internacionais?

Pesquisas em bases de dados internacionais sugerem dois fatores. Primeiro, as grandes empresas têm apresentados problemas de crescimento, dada a baixa compreensão do mercado consumidor e líderes focados em modelos de gestão majoritariamente operacionais.

Segundo, o avanço tecnológico não é o grande responsável pela saída de mercado de empresas tradicionais. Estas empresas ainda sobrevivem, graças aos investimentos em pesquisas e tecnologias com potencial transformador de longo prazo, mas com indicadores não adequados.

Logo, o grande desafio seria melhorar o modelo de negócio, equilibrando opções tradicionais de trabalho, como ajustes operacionais, busca por qualidade total, ótima alocação de recursos financeiros e de pessoal versus adoção de uma real cultura de inovação.

Cultura de inovação

Hugo Ferreira Braga Tadeu, da FDC / Divulgação
Hugo Ferreira Braga Tadeu, da FDC / Divulgação

Diversas pesquisas conduzidas pelo Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral sugerem que a cultura de inovação ainda é um desafio a ser enfrentado.

Grande parte dos líderes empresariais ainda não compreende a real importância da inovação. Muitos acreditam que novos produtos são essenciais para a manutenção do diferencial competitivo, mas isto somente não se sustenta. Inovação requer líderes comprometidos com avanços na agenda da transformação e busca por novas tecnologias.

A maior oportunidade poderia estar na real mudança comportamental da alta direção. É importante destacar que esta mudança cultural deveria começar com os diretores e CEO.

Querer mudar toda uma empresa com processos de geração de ideias, por exemplo, não faz o menor sentido se os líderes não aceitarem também esse desafio. Essa agenda deveria ser primordial para o crescimento de longo prazo.

Espaço para experimentar

Portanto, trabalhar com as startups não seria uma grande vantagem, isoladamente. Para Paul Romer (prêmio Nobel de economia), a maior oportunidade está na geração, compartilhamento de conhecimento e contratação de pessoas relevantes.

Somado a isto, é preciso um ambiente estimulante, autônomo e desafiador, em que o erro honesto seja praticado. Basicamente, mais espaço para experimentar.

Apesar do crescimento das startups, dos espaços de coworking e práticas de corporate venture no Brasil, quantas destas empresas tem apresentado resultado financeiro comprovado?

Por outro lado, o índice de mortalidade destas mesmas startups é alto, considerando dificuldades de acesso a clientes e fluxo de caixa insatisfatório. Em que circunstâncias esse casamento dá certo?

Finalmente, adotar metodologias como design thinking, prototipação e tomada de decisão rápida, mas sem compreendê-las adequadamente, pode ser contraditório.

Os exemplos de empresas do Vale do Silício são relevantes, mas entendendo que a combinação de recursos, gente capacitada e conhecimento técnico pode transformar o ambiente econômico como um todo, independentemente do tamanho da empresa.

  • Hugo Ferreira Braga Tadeu é professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral em Inovação e Estratégias Digitais.

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