Os benefícios trazidos pela flexibilidade do ambiente multicloud vêm com grandes desafios.
Em 2019, um dos mais críticos será equacionar o faturamento (billing) de recursos e serviços distribuídos por incontáveis nuvens públicas.
Empresas de todos os portes já estão passando parte de seus workloads para uma combinação de plataformas que pode incluir players como AWS, Azure, Google Cloud Plataform e VMWare.
O ponto delicado é que, se deixados sem monitoração, os custos associados ao ambiente de múltiplas nuvens podem rapidamente ficar fora de controle.
Esse quadro fica claro quando se examina os resultados da pesquisa realizada com 200 CIOs norte-americanos pelo instituto de pesquisas Enterprise Strategy Group (ESG).
O levantamento 2018 ESG Research Survey, The Emergence of Multi-Cloud Strategies mostra que 81% dos executivos entrevistados já utilizam dois ou mais provedores de nuvem pública.
Dentro desse grupo, 41% disseram que um dos dois fatores mais críticos dessa jornada é navegar os diferentes modelos de custo e de billing dos provedores de multicloud.
A pesquisa descreve, também, alguns desafios específicos.
De acordo com os CIOs entrevistados, cada plataforma de nuvem é um mundo, com um conjunto específico de variáveis: políticas de billing, modelos de preços, modelos de cobrança por instância ou por virtual machine, descontos temporários etc.
Transparência de custos
Um levantamento feito no primeiro semestre de 2018 pela Crisp Research com CIOs alemães mostra um quadro similar.
Na pesquisa Hybrid and multi-cloud services among mid-sized companies in Germany, 80% dos CIOs afirmaram contar com serviços de multicloud em seus ambientes.
E, novamente, os desafios do billing são um destaque:
- 43,2% reclamam da falta de transparência de custos;
- 42,6% afirmam que os modelos de licenciamento são ambíguos;
- 35% dizem enfrentar dificuldades para calcular o retorno sobre investimento (ROI, na sigla em inglês) e o custo total de propriedade (TCO, na sigla em inglês) deste modelo.
Solicitados a entrar nos detalhes dessa batalha pela clareza de custos, os CIOs falam sem rodeios.
“Sinto-me perdido na selva das licenças totalmente diferentes entre si. Estou soterrado em complexidades. E ainda preciso dissecar diferentes modelos de contrato e diferentes modelos de SLA (acordo de nível de serviço)”.
Em outras palavras: a vastidão de detalhes do billing do multicloud pode ser um pesadelo para o gestor de TI.
A boa notícia é que já há caminhos para trazer transparência e controle a essa disciplina:
Cloud cost analyst
Uma opção é a contratação de um cloud cost analyst (analista de custo de nuvem).
Ele ou ela irá mapear os gastos com as várias instâncias do modelo multicloud, criando pontes entre questões técnicas e questões contábeis.
O resultado do trabalho do cloud cost analyst será um retrato do padrão de consumo de recursos digitais da empresa.
Sua grande missão é, muito simplesmente, alinhar excelência tecnológica (ou seja, a entrega de serviços digitais que realmente suportem o negócio) à excelência em controle de custos.
Hoje, nos EUA, o salário anual de um cloud cost analyst varia entre US$ 50 mil e US$ 100 mil por ano.
Cloud Billing Solutions
Outro caminho pode ser a contratação – em forma de serviço ou on-premise – de plataformas especializadas no controle de custos de complexos ambientes multicloud.
Uma espécie de contas a pagar da área de tecnologia da informação (TI), esse tipo de sistema mergulha no universo digital da empresa, identificando fornecedores, pacotes e serviços em suas diversas modalidades e monitorando, em tempo real, a maneira como a empresa usuária utiliza os recursos.
As soluções de cloud billing são capazes, também, de propor previsões de gastos, algo essencial para garantir o controle de um ambiente tão fluido quanto a multicloud.
Serviços terceirizados de billing
É possível, também, terceirizar a inteligência sobre cloud billing.
Nesse caso, entram em cena grandes provedores de serviços digitais que já oferecem, como um complemento de sua oferta de nuvem, serviços de billing sob medida para a realidade e a necessidade de cada empresa usuária.
Esse mercado é disputado, também, pelas principais consultorias de negócios do mercado.
Gestão baseada na aplicação
Há, ainda, uma outra forma de se adicionar visibilidade à multicloud e evitar os sustos financeiros.
Quem usar soluções de gestão, disponibilidade e segurança de aplicações ganhará controle sobre tudo o que diz respeito aos recursos multicloud que suportam essa aplicação.
Por aplicação, entenda-se um internet banking, o engine de um portal de comércio eletrônico, o sistema de gestão de uma indústria.
Essas soluções permitem que o gestor configure uma única vez os requisitos de nuvem de uma determinada aplicação.
A partir daí essa política será aplicada automaticamente a todas as nuvens.
Chega-se ao detalhe do detalhe na decisão sobre que componente da aplicação alocar em que tipo de serviço de nuvem, por quanto tempo, até qual limite de acessos etc.
A fluidez entre as várias instâncias do ambiente multicloud obedecerá à lógica da aplicação missão crítica – o sistema que, se não funcionar, derruba a empresa.
Há ainda, nesse universo, uma faixa de soluções – as plataformas de gestão de tráfego inteligente – que, a partir das demandas da aplicação, consegue minimizar os gastos com a nuvem.
Dentro dessa lógica, prioriza-se o uso da nuvem privada (o datacenter da empresa usuária), obviamente de menor custo; em seguida, conforme as demandas de serviço da aplicação, vai-se contratando recursos em nuvens públicas (multicloud).
Essa inteligência permite que o gestor saiba, de forma cristalina, os custos de cada nuvem no suporte à aplicação missão crítica e aloque recursos de acordo com essa informação.
Em 2019, aliar excelência em controle dos custos da multicloud à excelência na entrega e na segurança da aplicação será essencial para suportar o crescimento dos negócios.
- Hilmar Becker é diretor geral da F5 Networks Brasil