O modelo de infraestrutura de tecnologia da informação (TI) sob demanda já está consolidado, mas ainda é preciso romper algumas barreiras e avaliar as melhores formas de adotar soluções de nuvem em cada empresa.
Sistemas híbridos, que combinam nuvem pública e privada, ganham força no mercado.
O valor do investimento e o esforço de migração, porém, continuam sendo desafios na adoção da tecnologia em determinados casos.
Esses e outros temas foram debatidos por executivos e especialistas de diferentes setores do mercado na última quarta-feira (7/11), durante mesa redonda sobre Infraestrutura de TI sob demanda.
Realizado em São Paulo pelo inova.jor, o evento contou com o apoio da Odata.
Paulo Terin, CIO do Credit Suisse, disse que o entusiasmo inicial com a nuvem já passou, permitindo que o mercado passe a enxergar possibilidades de TI de maneira mais integrada, agindo de acordo com os objetivos particulares de cada empresa.
“Estamos saindo de um momento em que empresas viam a nuvem como o Santo Graal da TI e começamos a caminhar para um momento heterogêneo, em que maturamos a estrutura híbrida mais adequada de cada necessidade e particularidade exigida pelo mercado”, disse.
Dados de clientes
Para Eugênio Fabbri Neto, diretor de tecnologia da informação do Banco Pine, é essencial que tecnologias de infraestrutura de TI permitam que companhias tenham maior controle de dados sensíveis de clientes – principalmente em setores como financeiro e de saúde.
“Não é totalmente confortável, para um banco ou qualquer outra instituição financeira, jogar dados de clientes para fora, numa nuvem pública”, disse o executivo durante o evento. “Não temos cloud no Banco Pine, mas servidores dedicados. Atende mais nossas necessidades.”
Ricardo Orlando, CIO da Dasa, também destacou a importância de se preservar a privacidade dos dados.
“Vazar um exame é tão sensível quando vazar informações de um extrato bancário”, disse o executivo durante o encontro. “As empresas, infelizmente, se preocupam muito pouco com a segurança. Por isso, às vezes, é melhor trazer soluções internas e se comprometer com o cliente.”
TI para negócios
Outras companhias, enquanto isso, veem o caminho unicamente na direção da nuvem.
Um exemplo é a JHSF, que atua em diversos segmentos: construção, shoppings, lojas de varejo e até aeroportos.
E, mesmo com uma atuação tão variada, 60% das aplicações estão em nuvem e sua TI é voltada apenas para negócios.
“Nós até fazemos uma mistura de sistemas, mas a nossa tendência clara e direta é ir para a nuvem”, contextualizou Rogério Pires, CIO da JHSF. “Afinal, é preciso agilidade e flexibilidade nas ações. Um cliente num restaurante não vai esperar minutos por uma conta. E, além disso, não tenho gastos com infraestrutura.”
Fábio Pereira, sócio em consultoria de tecnologia da Deloitte, também apontou como melhor caminho os sistemas híbridos.
“O mercado vai amadurecendo conforme explora novas tecnologias e caminha no sentido de se tornar híbrido”, ressaltou o consultor. “O caminho para isso não é trivial, mas os benefícios são inúmeros. E é preciso, às vezes, perseguir a tecnologia.”
Para aplicações de inteligência artificial ou realidade virtual, por exemplo, é indispensável a contratação de serviços em nuvem.
“As novas tecnologias exigem agilidade de sistemas. E isso, hoje, depende totalmente da cloud. Talvez você acabe sendo obrigado a mudar para a nuvem para conseguir trazer essa modernidade. Não adianta, então, ficar comparando modelos e não agir”, disse Terin, da Credit Suisse.
Transformação digital
Antes de decidir caminhos a tomar na nuvem, empresas ressaltam que é preciso promover uma transformação interna.
Fabio Levi, superintendente de pagamentos digitais da Elo, ressalta que a empresa passa por uma transformação em seu mindset.
“A migração para a nuvem traz processos mais ágeis, maior flexibilidade. Por isso, estamos contratando pessoas que se identifiquem com essa mentalidade e treinando os outros colaboradores”, afirmou o executivo. “É preciso ter grupos multidisciplinares para a empresa avançar.”
Não é possível, então, transformar tecnologicamente a empresa sem olhar para sua própria forma de atuação.
“Muitas vezes, o mercado olha muito para a área de TI, mas não para o entorno. Para o financeiro, para o RH. Desse jeito, a transformação não consegue vir de forma natural”, disse Fábio Abatepaulo, diretor de transformação digital da Unisys.
Moyses Rodrigues, líder de IaaS da Accenture, ressalta a importância de uma cultura bem estabelecida e que caminhe com as transformações tecnológicas promovidas por TI.
“As possibilidades trazidas pela infraestrutura sob demanda é um agente transformador nas empresas, mas as outras áreas ao redor da TI precisam acompanhar a evolução geral da companhia”, disse o executivo. “É preciso que as empresas sejam inteiramente ágeis no processo.”
Parcerias com startups
Para isso, algumas companhias olham com cada vez mais atenção para as startups, que já nascem com a flexibilidade no cerne da cultura.
Integrando-as aos processos, mudanças internas se revelam de maneira natural e extremamente próximas do que é necessário para a empresa.
“Temos um relacionamento próximo com startups, que já nascem com essa cultura e dentro da nuvem”, disse Cesar Raize, gerente de infraestrutura e suporte de tecnologia da RTM.
Paulo Cesar Parcesepe, superintendente de Infraestrutura da Sompo Seguros, porém, ressalta a importância de valorizar aspectos básicos das empresas durante esse processo de transformação e migração para a nuvem: “É preciso implementar novos sistemas de forma rápida, mas mantendo o controle das finanças e da governança”.
As parcerias com startups também se mostram uma boa saída ao colocar contas na ponta do lápis.
“Startups são atraentes e estão conseguindo contratar ótimas pessoas que estão no mercado”, disse Jacques Varaschim, presidente de tecnologia de informações da CVC. “É preciso investir muito em pessoas capacitadas para essa nova fase.”
A CVC já tem alguns setores 100% integrados à nuvem.
Possibilidades
Ricardo Alário, presidente da Odata, apresentou um cenário sobre o mercado brasileiro, mostrando as possibilidades de crescimento no país e na América Latina.
“O Brasil é 10% do que é o mercado americano, que é incrivelmente mais volumoso e mais ágil”, afirmou o executivo. “Mas, pensando num cenário latino-americano, o Brasil é líder do setor e possui estrutura razoável de alguns players, como Microsoft, Amazon e Oracle.”
Ele ainda ressalta outros mercados em potencial, como Colômbia, Argentina e Peru, além de indicar um diferencial do Brasil: a matriz de energia elétrica renovável.
“Atualmente, os data centers nos Estados Unidos consomem 2% da energia do País todo. As empresas já estão se preocupando com a origem disso”, afirma. “O positivo no Brasil é que temos 80% da nossa energia renovável e, assim, empresas se sentem mais confortáveis.”
A Odata escolheu a Colômbia para receber suas primeiras operações fora do Brasil.