Na computação convencional, o bit tem valor de zero ou um. No computador quântico, a unidade mínima de informação é o bit quântico, ou qubit, que pode representar zero, um ou zero e um ao mesmo tempo.
Dessa forma, enquanto dois bits podem ter valor de 00, 01, 10 ou 11, dois qubits podem armazenar os quatro valores simultaneamente.
Essa capacidade faz com que alguma operação que levaria décadas para ser processada em máquinas convencionais possa ser resolvida em segundos.
Recentemente, entrevistei o professor Routo Terada, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, para a Revista .br, e ele explicou como isso acontece:
“Imagine que alguém está num labirinto e tem uma porta à esquerda e outra à direita. Qual das duas escolher? O computador com um processador apenas, convencional, funciona assim, escolhendo entre duas opções, que se repetem a cada escolha, até encontrar a saída. Enquanto isso não acontece, tem de voltar, recomeçar e vencer bifurcações, até encontrar a saída. No pior caso, haveria um número exponencial (2n) de bifurcações. No computador quântico, se há uma bifurcação à esquerda e à direita, ele toma os dois caminhos simultaneamente. Na segunda escolha, serão quatro opções, e o computador quântico é capaz de optar por todas as quatro simultaneamente. Essa capacidade de optar por várias possibilidades, simultaneamente, é impossível para um computador convencional.”
Um processador de 50 qubits pode representar, simultaneamente, mais de 1 quadrilhão de valores.
Futuro
Apesar de ainda não estar disponível comercialmente, o computador quântico deve revolucionar, nos próximos anos, a forma como processamos informação.
A IBM oferece opera o IBM Q Experience, em que pesquisadores e desenvolvedores têm acesso, via nuvem, a computadores quânticos, ainda em fase experimental.
Atualmente, a empresa dispõe de processadores de 5 e 16 qubits.
Na semana passada, durante o Ciab Febraban 2018, evento de tecnologia para instituições financeiras, Christian Schnabel, falou sobre computação quântica aplicada a serviços financeiros.
Os bancos preparam-se para uma era de atendimento individualizado, em que coisas conectadas, combinadas a análise de dados e inteligência artificial, permitirão prever o comportamento do cliente.
“Acredito que tecnologias como o computador quântico e o 5G (quinta geração das comunicações móveis) serão importantes nesse cenário”, afirmou Gustavo Fosse, diretor de Tecnologia e Automação Bancária da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em entrevista ao inova.jor.
Fosse destacou a aceleração da adoção de tecnologias exponenciais, como o blockchain, que está por trás de criptomoedas como o bitcoin.
“Começamos a discutir o blockchain no ano passado, e neste ano a tecnologia já está madura”, destacou.
No caso do computador quântico, deve demorar um pouco mais. Ainda existem questões técnicas a serem resolvidas para tornar a tecnologia comercial.
Segurança
O computador quântico deve:
- acelerar o tempo de busca de informações em bancos de dados;
- tornar mais rápidos algoritmos de aprendizado de máquina;
- permitir formas mais seguras de criptografia;
- resolver problemas complexos que impactam decisões de negócios.
A tecnologia deve ter impactos importantes na área de segurança de informação.
Técnicas atuais de criptografia, que levariam mais de um século para serem quebradas com máquinas convencionais, poderiam vencidas em segundos por um computador quântico.
“O computador quântico vai exigir novas soluções de segurança”, explicou Fosse.
Na sua opinião, será possível, com esse poder de computação, antecipar comportamentos futuros dos clientes, para oferecer serviços de acordo com as necessidades individuais.
“Quando o cliente vai sair de férias, ele quer uma viagem, e não CDC (Crédito Direto ao Consumidor)”, exemplificou o executivo. O crédito é o produto financeiro que possibilita a viagem.
Dessa forma, as serviços financeiros precisam fazer parte da experiência do cliente e estar integrados a uma oferta de produtos e serviços que façam sentido para cada momento de sua vida.
Segundo Fosse, o principal desafio dos bancos para consolidar esse cenário não é tecnológico, mas de mão de obra.
“Precisamos de pessoas capazes de transformar dados em padrões de comportamento, e esse profissional a universidade ainda não forma.”