Por que é muito difícil mudar o Facebook

Mark Zuckerberg entrou no evento e ninguém percebeu / Facebook/Reprodução
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Mark Zuckerberg anunciou mudanças no Facebook, depois do escândalo da Cambridge Analytica / Facebook/Reprodução
Mark Zuckerberg anunciou mudanças no Facebook, depois do escândalo da Cambridge Analytica / Facebook/Reprodução

O saudoso Marshall McLuhan falava que a privacidade acabou quando inventaram a luz elétrica. De Thomas Edison para cá, no entanto, a situação piorou.
O Facebook tem vivido o seu pior momento, desde que explodiu o escândalo Cambridge Analytica.
Um pesquisador de Cambridge coletou informações de 50 milhões de norte-americanos e repassou-as para a empresa, que, por sua vez, usou-as na campanha presidencial de Donald Trump.
Mark Zuckerberg assumiu parte da culpa e anunciou mudanças.
Mas é muito difícil mudar o Facebook. O que aconteceu não foi um vazamento de dados.
Usar as informações dos usuários da rede social para traçar perfis e manipulá-los emocionalmente é da essência do serviço. Seja para fazê-los comprar alguma coisa, seja para levá-los a votar em alguém.
É assim que o Facebook funciona e assim que ele ganha dinheiro.
A diferença no caso da Cambridge Analytica é que a empresa usou o Facebook para coletar dados das pessoas e traçar ela mesma tipos de personalidade.
Normalmente, essa segmentação é feita pelo próprio Facebook.
O pesquisador coletou informações por meio de um aplicativo do Facebook, que era um questionário. Ele pegou os dados não somente de quem participou, mas também de todos os amigos dessas pessoas.
Faz alguns anos que isso já não é possível, pois a rede social limitou o acesso a informações de amigos.
Mas, mesmo assim, anunciantes com uma boa estratégia de segmentação podem conseguir um resultado parecido, trabalhando na plataforma.
Se o Facebook mudar isso, ele estará jogando fora seu modelo de negócios.

Necessidade de regulação

Tem gente falando que é só deixar de clicar em links como “Saiba como você seria se fosse do sexo oposto” ou “Veja como você ficaria se fosse uma estrela de Hollywood”.
O problema é que o próprio Facebook é um imenso “Saiba como você seria se fosse do sexo oposto”.
Sem participar desse tipo de brincadeira, o usuário não dá acesso de seus dados a terceiros, mas continua a entregá-los ao próprio Facebook.
A crise da Cambridge Analytica fez com que pessoas sugerissem alguma forma de regulação. Mas o importante seria haver uma legislação séria sobre dados pessoais.
Imagine se alguém tivesse criado alguma regulação específica para o Orkut ou o MySpace.
Não é porque a privacidade acabou que as empresas podem sair fazendo o que bem entenderem com as informações das pessoas.
Quando alguém entrega seus dados pessoais, precisa ter garantias sobre como eles serão usados.
É preciso haver uma legislação que proteja esses dados, o que o Brasil não tem.
O escândalo do Facebook deve servir, pelo menos, para mostrar às pessoas o que a rede social realmente é. Não é um lugar para conversar com os amigos ou publicar as fotos da família.
É uma plataforma para fazer as pessoas reagirem emocionalmente e promover produtos (que podem ser um candidato presidencial). De preferência, pagando por isso.


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