Philip K. Dick, nosso contemporâneo: ‘Somos nós ou a rede’

O conceito de indústria 4.0 acrescenta uma camada de inteligência à produção automatizada / Reinhard Winkler/Creative Commons
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Philip K. Dick: A indústria 4.0 acrescenta uma camada de inteligência à produção automatizada / Reinhard Winkler/Creative Commons
A indústria 4.0 acrescenta uma camada de inteligência à produção automatizada / Reinhard Winkler/Creative Commons

Apesar de ter morrido há décadas, Philip K. Dick é nosso contemporâneo. Suas distopias tratam de questões que a tecnologia nos impõe hoje.
A inteligência artificial foi  por muito tempo uma promessa. Com o aprendizado de máquina, já aconteceu.
Computadores conseguem aprender coisas sem que tenham sido programados, e sem que sejamos capazes de dizer, passo a passo, como eles chegam a determinada conclusão.
Máquinas pensantes podem ser uma ameaça. O bilionário Elon Musk e o físico Stephen Hawkins estão entre os que alertaram para os perigos da inteligência artificial.

Indústria 4.0

Philip K. Dick publicou o conto “Autofac” em 1955. Ele fala de um futuro em que, depois da guerra, tudo é fabricado automaticamente (daí o título da história).
Os humanos sobreviventes, que recebem os produtos feitos por robôs, querem retomar o controle da produção. Eles temem que as fábricas automáticas esgotem os recursos naturais do planeta.
Atualmente, fala-se muito em indústria 4.0, que acrescenta uma camada de inteligência à produção automatizada.
As linhas de produção passam a ser capazes de se configurar automaticamente, ajustando a fabricação aos pedidos que vêm do sistema de gestão e alcançando o máximo de eficiência numa produção que se torna cada vez mais personalizada.
O escritor de ficção científica norte-americano não imaginou o cenário de personalização de massa, mas deu um passo além da automação inteligente que temos hoje.
As unidades fabris do conto são capazes de se autorreproduzir. Os humanos fazem com que as fábricas entrem em conflito por matérias-primas, e isso leva a, aparentemente, elas se destruírem umas às outras.
Mas as pessoas não sabem que, debaixo do cenário de destruição, as fábricas começaram a produzir pequenas versões de si mesmas, que passam a espalhar pelo mundo e até pelo universo.

Nós ou a rede

Antes de criarem o conflito entre máquinas, humanos tentam convencê-las a interromper a produção, argumentando que as autofacs não são mais necessárias.
“O ciclo inoperante não está preparado para começar até que a rede de produção meramente reproduza a produção externa”, explica o robô. “Não existe neste momento, de acordo com nossa amostragem contínua, nenhuma produção externa. Por causa disso, a rede de produção continua.”
Um dos humanos comenta: “É um paradoxo. É um jogo de palavras – uma brincadeira semântica que fazem com a gente”. Ao que outro responde: “Temos de destruí-los. Somos nós ou a rede.”

Quimera suíno-humana

O conto “Autofac” mostra um mundo dominado pela inteligência artificial. Também demonstra como, aos poucos, a realidade começa a entrar em sincronia com o que escreveu Philip K. Dick.
Lançado em 1982, ano da morte do escritor, Blade Runner foi a primeira grande adaptação do trabalho dele para o cinema.
Assim como O Vingador do Futuro (outro filme que tem como base o trabalho dele), Blade Runner questiona o que é a memória e como fica a identidade, quando pode ter como base lembranças artificiais.
A história também fala sobre os limites da biotecnologia, ante a capacidade de se criar pessoas artificialmente.
Gerados em laboratório, os replicantes têm tempo de vida limitado, e questionam isso. É um tema importante atualmente.
Neste ano, foi divulgada a criação dos primeiros embriões híbridos de humanos e porcos. A pesquisa abre a possibilidade de se desenvolver órgãos humanos em porcos, para transplantes.
A pequisa levanta, no entanto, questões éticas bem complicadas. Até que ponto um híbrido suíno-humano pode ser considerado humano. Seria correto matá-lo e retirar seus órgãos, mesmo que para salvar outras vidas?


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