Hendrik van Loon é um escritor que anda meio esquecido. Seu livro História das invenções: o homem, fazedor de milagres foi publicado em 1934 nos Estados Unidos, e saiu por aqui na década seguinte, pela Editora Brasiliense.
O historiador holandês expôs nesse livro uma ideia poderosa, que foi adotada mais tarde por Marshall McLuhan: a de que as tecnologias são extensões do corpo humano.
Ele escreveu:
- Todas as invenções já idealizadas têm por objetivo principal auxiliar o homem na sua louvável luta de passar pela vida com o máximo de prazer em troca do mínimo de esforço. Algumas delas, porém, são meras multiplicações (extensões, intensificações ou aumentos) de certos atributos físicos, tais como “falar” , “andar”, “atirar” , “ouvir” ou “ver” , enquanto que outras são o resultado do desejo do homem de poupar dignamente suas faculdades físicas e mentais.
Killer app
Uma pesquisa recente da Ipsos, que mediu tendências mundiais, verificou que a maioria das pessoas não tem mais uma visão tão benigna da tecnologia.
Metade dos pesquisados temem que o avanço tecnológico esteja destruindo suas vidas. No Brasil, esse percentual é maior ainda, alcançando 62%.
A percepção negativa dos brasileiros é maior também do que a média dos mercados emergentes, de 58%. A pesquisa ouviu 18 mil pessoas em 23 países entre setembro e outubro do ano passado.
O maior aumento da percepção negativa sobre a tecnologia foi entre a geração Z, que nasceu entre meados da década de 1990 e 2010.
Em 2014, somente 37% da geração Z achavam que o progresso tecnológico destruía vidas. No estudo deste ano, esse número passou para 50%.
Dependência
A visão negativa sobre o avanço tecnológico ganha espaço ao mesmo tempo em que as pessoas se dão conta de como dependem completamente da tecnologia.
Na mesma pesquisa da Ipsos, 69% dos entrevistados responderam que não imaginam como viver sem internet. Mais uma vez, o Brasil está acima da média, com 73%.
O reconhecimento dessa dependência, acompanhado da ideia de que o avanço tecnológico mata, pode significar que, ao contrário do que propôs Van Loon no século passado, nossos corpos acabaram se tornando extensões de nossas invenções.