Este ano não foi fácil para as telecomunicações, diante das incertezas geradas pela necessidade de mudança na regulação e pelos cenários macroeconômico e político.
No começo do próximo mês, a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp) realiza um evento para discutir o cenário de mudanças para 2017.
As inscrições para o IX Seminário TelComp 2016, marcado para 8 de novembro, em São Paulo, podem ser feitas pelo site.
João Moura, presidente executivo da associação, fala, na entrevista a seguir, sobre as perspectivas do setor para os próximos meses.
Deve haver uma retomada da economia e, consequentemente, dos investimentos em 2017?
As grandes operadoras reduziram investimentos em 2016 e devem manter o mesmo nível, mais baixo, em 2017. É uma postura cautelosa em função do cenário macro, das indefinições no âmbito regulatório e das expectativas de incentivos públicos para investir. No lado das operadoras competitivas, o ritmo de investimentos continua forte, impulsionado pela demanda e por oportunidades de mercado. Apesar da economia fraca, o mercado corporativo, foco prioritário das operadoras competitivas, continua demandando mais e melhores recursos de conectividade e de tecnologias digitais.
Qual tema deve receber mais atenção das empresas do setor no próximo ano?
As operadoras competitivas esperam melhores condições para investimento em novas redes. Isso inclui a aplicação prática da Lei Federal de Antenas, que trata também de direito de passagem em rodovias, mas é ignorada inclusive por órgãos federais; de superação de barreiras impostas por legislações municipais restritivas para implantação de redes; e da efetiva regulamentação de uso de postes e de compartilhamento de dutos. São elementos sem os quais não é possível realizar investimentos no ritmo e na extensão que o mercado demanda.
No âmbito nacional, as discussões sobre a quinta geração das comunicações móveis (5G) e sobre a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) devem tomar fôlego nos próximos meses?
Embora o 5G e as aplicações mais sofisticadas de internet das coisas ainda exigirão dois ou três anos para se firmar no mercado, a preparação das redes para suportá-las tem de se acelerar agora. A cobertura de serviços móveis exige cada vez mais infraestrutura fixa em fibra óptica, robustas e de alta qualidade. As aplicações de IoT exigem alta performance a mais confiabilidade das redes ópticas. Tudo isso requer esforço e investimentos que tomam tempo. Não há como improvisar.
O mundo digital tem transformado os modelos de negócio de vários setores. Como está sendo o impacto nas operadoras?
As empresas de telecomunicações já estão sendo fortemente impactadas pela nova realidade do mundo digital. Originalmente, as teles tinham controle total sobre suas próprias redes e os serviços oferecidos. A convergência digital criou uma nova realidade na qual as empresas de internet podem oferecer serviços de comunicação eletrônica através de aplicativos que o cliente acessa diretamente via internet sem a interferência das teles.
Como o senhor avalia este novo cenário do mundo digital para o setor?
A nova dinâmica do mundo digital não é uma alternativa nem uma possibilidade: é um imperativo para o desenvolvimento econômico e social. Isso exige esforço coordenado da sociedade para embarcar nesta revolução e realmente se beneficiar de todo o potencial que as novas tecnologias oferecem. Só assim criaremos novas oportunidades de desenvolvimento econômico, vamos melhorar a qualidade de vida das pessoas e faremos contribuições decisivas para a sustentabilidade do planeta.
As receitas tradicionais das operadoras provenientes de serviços de voz, mensagem e TV por assinatura estão em constante queda. O que as empresas precisam fazer para driblar essas dificuldades?
A única alternativa às teles é ganhar produtividade e modernizar muito as suas redes para oferecer mais e melhores serviços de conectividade, e assim continuarem rentáveis, além de criar suas próprias ofertas de serviços digitais em áreas em que detenham competência. Essa nova realidade impõe mudanças substanciais também na regulamentação setorial e no modelo tributário, que hoje estão absolutamente obsoletos e incompatíveis com a realidade do mundo digital.