Falta investimento em infraestrutura de banda larga

Infraestrutura: Discussão sobre franquia de dados da banda larga tem se limitado ao acesso / mohsend72/Creative Commons
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Infraestrutura: Discussão sobre franquia de dados da banda larga tem se limitado ao acesso / mohsend72/Creative Commons
Discussão sobre franquia de dados da banda larga tem se limitado ao acesso / mohsend72/Creative Commons

Carlos Brito
A principal discussão que tem mobilizado a internet nos últimos meses no Brasil é a franquia de dados nos pacotes de banda larga. Desde que as operadoras começaram a divulgar que passariam a oferecer em breve pacotes com limites nos contratos, diversos usuários, autoridades, entidades e movimentos ligados à internet passaram a se manifestar sobre o tema, sobretudo por meio de redes sociais.
Para entender melhor essa discussão, é importante abordar um ponto pouco explorado: a infraestrutura.  É preciso ter uma visão ampliada sobre as redes como um todo para o País conseguir suportar a demanda cada vez mais crescente de conexão de alta velocidade.
Em linhas gerais, o acesso à internet é dividido por algumas camadas. A discussão tem ficado restrita à última camada, a de acesso, que é a que de fato chega aos clientes, fazendo o transporte de informação entre o terminal do usuário e o primeiro ponto de acesso da rede. Antes disso, há outras camadas, como a de agregação e a de backbone (espinha dorsal da rede), e, suportando tudo isso, uma parte essencial do processo: a camada de transporte.
É na camada de transporte, juntamente com o backbone, em que está o principal gargalo das operadoras de telecomunicações do Brasil. O investimento nessas camadas está aquém da demanda e, sem uma estrutura sólida nesse sentido, uma provedora não consegue crescer e o desequilíbrio causado por essa falta de estrutura é percebido mais para frente. Por outro lado, da mesma forma que o investimento é necessário, surgem as dificuldades de capacidade de investimento das empresas, sobretudo num momento desafiador como o atual do país.

Longo prazo

Infraestrutura: Carlos Brito, da ECI / Divulgação
Carlos Brito, da ECI / Divulgação

Uma busca constante das empresas é de diminuir o capex (despesas de capital ou investimento em bens de capital) e o opex (despesas operacionais). Por isso, cada vez mais precisam ir em busca de equipamentos com vida longa, que olham para o futuro e não necessitam de novos investimentos de grande porte, a curto prazo. O pensamento precisa ser em longo prazo.
Duas tecnologias estão revolucionando a forma de operação das redes de telecomunicações, respondendo às demandas no tráfego dos usuários: Software-Defined Networks (SDN) e Network Functions Virtualization (NFV). O SDN centraliza todas as funções das camadas de rede num mesmo dispositivo, por meio de tecnologias controladoras e programáveis, enquanto o NFV consiste na substituição de hardware especializado por máquinas virtuais. O investimento nesses tipos de tecnologias se torna cada dia mais necessário. Esse é o caminho para as operadoras, enfim, se prepararem para atender a demanda de internet do país.
Esse cenário de infraestrutura não chega aos olhos do consumidor final, que se questiona sobre os verdadeiros motivos das operadoras limitarem o acesso à internet. Certamente não é por falta de investimento na camada de acesso, que é algo que não tem trazido problemas. Está na infraestrutura. As prestadoras não crescem o backbone e a camada de transporte na medida da necessidade.
Um exemplo prático: com uma internet de 50 Mega, a camada de acesso suporta tranquilamente um streaming. O problema está dali para frente. No backbone, são centenas de pessoas pedindo acesso a streaming simultaneamente e assim a rede não suporta a demanda. Ou seja, não adianta a operadora prover 50 ou 100 Mega para o cliente, sendo que nas outras camadas está atuando com 15 Mega.
Todos os efeitos dessa discussão caem na questão de infraestrutura da camada de transporte e backbone, que precisam se tornar prioridade das operadoras para que a situação não precise chegar ao ponto de limitação de acesso.

  • Carlos Brito é gerente geral para a América Latina da ECI

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