Quatro maneiras de hackear sua cidade

Martijn de Waal defende o uso de ferramentas digitais em projetos de urbanização / Renato Cruz/Inova.jor
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Martijn de Waal defende o uso de ferramentas digitais em projetos de urbanização / Renato Cruz/Inova.jor
Martijn de Waal defende o uso de ferramentas digitais em projetos de urbanização / Renato Cruz/Inova.jor

Martijn de Waal, pesquisador da Universidade de Ciências Aplicadas de Amsterdã, não gosta do conceito de cidade inteligente. Ontem (16/3), durante apresentação no Red Bull Station, em São Paulo, ele mostrou uma série de imagens de cidades inteligentes.
“Quando as pessoas falam desse assunto, normalmente acabam em coisas como estas”, afirmou, referindo-se aos desenhos assépticos e futuristas de sua apresentação. “Falta alguma coisa. As pessoas não estão aí.”
No lugar de cidade inteligente, o pesquisador holandês propôs o conceito de “cidade hackeável“, usando como exemplo o caso de Buiksloterham, um distrito ao norte de Amsterdã, que foi reurbanizada.
De Waal se inspirou em Richard Stallman, criador do software livre, para a sua definição de hackear. “Na esfera da colaboração, hackear é trabalhar na direção do bem comum”, explicou. “A cidade precisa ser vista como uma plataforma aberta que pode ser hackeada a partir da perspectiva do interesse público.”

1. Incentive a colaboração

O projeto original para um lote de Buiksloterham previa a construção de um grande edifício. Com a crise de 2008, o plano mudou e foram formados sete grupos de futuros moradores, que buscaram um arquiteto ou construtor para criar edifícios menores colaborativamente.
“Começamos a desenvolver a comunidade”, disse De Waal. Os futuros donos dos apartamentos usaram as mídias digitais para se comunicar e decidir sobre o projeto.
“Normalmente, o arquiteto desenharia um apartamento para o morador médio, mas acontece que o morador médio não existe”, afirmou o pesquisador. Com a participação das pessoas, foi possível projetar unidades que respondiam de forma mais efetiva às necessidades de cada um que foi morar por lá.

2. Compartilhe conhecimento

No mundo da programação, é fácil compartilhar conhecimento. Os hackers que desenvolvem software livre têm acesso ao código-fonte (lista de comandos que formam o programa), e podem estudá-lo e modificá-lo.
Para conseguir o mesmo efeito no mundo físico, o grupo de pesquisa de Martijn de Waal inventou um jogo. Numa mesa de cinco por cinco metros, eles colocaram um mapa da região que estava sendo reurbanizada, e criaram cartões que representavam a infraestrutura a ser instalada.
Os pesquisadores reuniram então representantes dos diversos grupos que iriam ocupar o distrito, e pediram que cada um deles colocasse no mapa o que pretendiam construir.
“O jogo serviu para reunir pessoas e criar coalizões”, disse o pesquisador. Um dos participantes queria instalar uma biorrefinaria para gerar matéria-prima de produtos químicos e plásticos a partir de dejetos orgânicos.
Durante conversas enquanto se desenrolava o jogo, ele conseguiu adesão suficiente de pessoas dispostas a investir numa rede de esgoto especial e viabilizar a refinaria.

3. Encontre saídas na legislação

A legislação não permitia construir numa área chamada Ceuvel Volharding, um antigo cais, que estava poluída. Técnicas convencionais de purificação da água e do solo eram consideradas caras demais.
A comunidade resolveu então usar vegetação para purificar o solo e, como não era possível construir no local, estacionou sobre a terra casas flutuantes antigas (comuns na Holanda), passando a ocupá-las com escritórios.
Criado com o reaproveitamento de materiais, o Café de Ceuvel se tornou bastante popular. “Ele se tornou o símbolo de uma nova maneira de fazer as coisas”, afirmou De Waal.

4. Coloque a comunidade online

Gebiedonline é um site para compartilhar informações sobre bairros. As pessoas podem criar perfis, marcar eventos numa agenda coletiva e trocar dicas sobre como encontrar profissionais como babás, entre outras atividades.
Ele foi criado de forma colaborativa por pessoas que queriam manter a propriedade de seus dados. Seria possível fazer a mesma coisa no Facebook, ou num serviço especializado como o Nextdoor, mas os participantes não queriam que suas informações fossem oferecidas para anunciantes ou governos.
Os bairros online são somente um exemplo de como a tecnologia digital pode tornar a cidade hackeável. “As novas mídias desempenham um novo papel em todos os passos”, disse o pesquisador holandês. “O big data e a visualização de dados podem oferecer respostas que não estavam disponíveis há 10 anos.”


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