‘Não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como nós somos’

HTC demonstra seu sistema de realidade virtual Vive / Renato Cruz/Inova.jor
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É hora de tirar os óculos da realidade falsa e encarar o mundo real / Renato Cruz/inova.jor
É hora de tirar os óculos da realidade falsa e encarar o mundo real / Renato Cruz/inova.jor

Aos gritos de “Thais”, uma mãe se agarra à filha, desesperada ao usar óculos de realidade virtual num shopping. Bem conhecido no YouTube, o vídeo mostra a cena da mãe e sua filha experimentando a realidade virtual de uma montanha russa.
É visível o desespero da mãe, que realmente acredita que está imersa naquela realidade. Eu não a culpo, na última vez que passei pela mesma experiência, tive até um pouco de náusea depois do experimento.
A mãe da Thais poderia tirar os óculos e se livrar daquele sofrimento a qualquer momento. Isso mostra como é fácil ter nossos sentidos enganados e acreditar que estamos vivendo numa realidade que não é verdadeira.
Observando o mundo corporativo, e principalmente o universo de tecnologia, é fácil também perder a noção do que pode estar acontecendo ao nosso redor, sem percebermos.
Após vários anos de sucesso e crescimento, a rotina dentro de uma empresa acaba se tornando a única realidade concebível, até as margens começarem a diminuir e alguns perigos baterem à porta.
Talvez seja a hora de tirar os óculos e ver o que está acontecendo lá fora.

Quarta revolução industrial

Erico Barcelos, da PromonLogicalis / Divulgação
Érico Barcelos, da PromonLogicalis / Divulgação

Temos evidências suficientes para saber que a quarta revolução industrial está em curso. A internet das coisas já gera quantidades massivas de dados, que propriamente aplicados serão capazes de mudar atitudes e transformar a natureza dos negócios.
Um dos resultados disso tudo é a mudança na maneira como nos relacionamos com outras pessoas, cada vez mais por meio de aplicativos e redes sociais.
Embora, no início, a nova tecnologia esteja disponível apenas para um pequeno grupo de indivíduos, esse descompasso é diminuído com o passar do tempo.
Foi assim com o vapor, com a energia elétrica, com os transportes, com as telecomunicações e com a internet, que está agora, prestes a alcançar 5 bilhões de usuários. É muito mais do que qualquer tecnologia já conquistou.
Com tudo isso acontecendo, as empresas devem refletir sobre a continuidade dos seus negócios. A reflexão deve passar por perguntas como:

  • A transformação digital afeta a forma como minha empresa realiza negócios?
  • Há tecnologias disruptivas em curso que podem afetar minha margem e a sobrevivência do meu negócio?
  • Há tempo de reagir?
  • Estou tecnologicamente preparado para enfrentar os desafios futuros?
  • Como tornar a inovação uma constante em minha empresa?

Novos padrões de comportamento

Casos como o da Blockbuster, Kodak, Uber e Netflix são exemplos de como a evolução da tecnologia pode destruir impérios ou construir novos padrões de comportamento e consumo nunca antes imaginados.
A liderança das empresas que ficaram para trás provavelmente não procuraram inovar em seus campos de atuação.
Podemos achar que essa realidade não se aplica à nossa empresa, mas quando modelos de negócios centenários, como o dos táxis, estão tendo problemas com a inovação, podemos ficar, no mínimo, desconfiados de que a qualquer momento pode surgir uma forma mais barata e mais eficiente de atender às necessidades dos nossos clientes.
Portanto, a grande questão é: por que eu mesmo não tento descobrir esse novo modelo? Ter sabedoria para perceber isso é o santo graal do mundo corporativo. Inovar é preciso, porém nem todos entenderam isso.
Qual é a postura comum quando recebemos o desafio de realizar um projeto nunca feito antes?
Encaramos o problema e tentamos achar soluções ou devolvemos para o demandante com mais questões apelando para a burocracia da empresa?

Liderança

A postura para encarar desafios é a peça chave para inovar. Para que a mudança na cultura organizacional aconteça, as empresas podem adotar metodologias como design thinking e o método agile, ou contratar uma consultoria especializada para analisar o mercado ou tecnologias para fazerem parte das rodadas de planejamento estratégico.
No entanto, nenhuma ferramenta é mais eficaz do que o comprometimento da liderança da empresa.
É ponto pacífico entre as consultorias especializadas que a liderança da empresa tem papel primordial em incentivar a cultura de inovação.
Talvez uma das dificuldades da liderança nesse sentido seja o gap entre a geração dos CEOs e a maior parte do público consumidor de tecnologia. Afinal, grande parte dele já nasceu digital.
Se o líder não possuir um espírito inovador genuíno e se recusar a ver a nova realidade, isso não será passado aos demais membros.
Como diz o Talmude: “Não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como nós somos”. Por isso é tão difícil trabalhar com inovação quando a equipe está exclusivamente focada no resultado de vendas do próximo trimestre.
Para atuar na nova realidade, as empresas não devem simplesmente abandonar a sua principal fonte de receita de uma hora para outra.
É necessário elaborar um plano de transição. A inovação começa como um movimento paralelo, até que o novo cresça, tome forma e se torne a nova realidade da empresa.
Se isso não for feito, todos continuaremos vivendo em uma realidade cada vez mais fadada a margens menores, extrema concorrência e perigo de insolvência.
É hora de ter coragem e preparar-se para tirar os óculos da realidade falsa, respirar e encarar a realidade do mundo real, cheio de possibilidades, margens melhores e oportunidades ainda inexploradas.


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