José Luis Spagnuolo
A história começa uns 200 milhões de anos atrás com a evolução de uma parte do cérebro conhecida como neocórtex, que permitiu aos mamíferos não só sobreviverem às catástrofes do período cretáceo, mas também fazer do Homo sapiens a espécie dominante no planeta Terra.
É no neocórtex que ocorrem as funções superiores, como percepção sensorial, intuição, geração de comandos motores, raciocínio espacial, pensamento consciente, criatividade, motivação, contexto, abstração e linguagem. O cérebro humano possui também suas limitações, tais como falhas de memória, vieses cognitivos, velocidade de processamento, capacidades matemáticas e tamanho.
Por muito tempo o homem tenta reproduzir as capacidades do cérebro em dispositivos e sistemas e, em 1950, o matemático Alan Turing chegou a propor um teste para avaliar se um sistema poderia exibir inteligência. Foi em 1956, em uma conferência no Dartmount College, que o cientista John McCarthy cunhou o termo inteligência artificial (IA), para designar sistemas que pudessem simular o pensamento humano.
Desde então, a ciência da computação tem evoluído, com altos e baixos, na tentativa de alcançar o objetivo de dotar de inteligência um sistema. Muito foi feito em jogos, lógica formal e provas de teoremas. Robótica, representação de conhecimento e sistemas especialistas limitados a um determinado domínio também foram implementados. Entretanto, por falta de um hardware poderoso para processar e armazenar tantas informações e, principalmente, de algoritmos que pudessem lidar com incertezas e dados não estruturados, a IA nunca havia vingado.
Isso começou a mudar na década de 1990 com a melhoria em processadores, memórias e armazenamento mais rápidos e algoritmos de redes neurais e de machine learning. Em 2011, a IBM, por meio do sistema Watson, conseguiu vencer os dois maiores jogadores de Jeopardy!, jogo de perguntas e respostas da TV norte-americana que requer entendimento da linguagem natural, busca por enormes quantidades de informação, criação de hipóteses e tratamento de incertezas.
Assistentes de profissionais
Iniciou-se aí uma discussão na comunidade especializada para saber quando esses sistemas vão atingir o mesmo nível da inteligência humana, que é definida como a capacidade de executar qualquer tarefa que um adulto pode realizar e que não seja limitada a um único domínio. Os mais pessimistas acreditam que isso deva acontecer por volta do ano de 2075, os mais otimistas em 2022 e a maioria acredita que seja perto de 2040.
Diferentemente do que muitos imaginam, os sistemas de computação cognitiva não vão substituir o homem. A ideia é que eles atuem como assistentes dos profissionais para ampliar seu conhecimento e auxiliar nas decisões. Por exemplo, o médico nunca será substituído, mas ele pode contar com um assistente cognitivo que lhe dê subsidio técnico e científico para melhor escolha um tratamento para seu paciente, já que ele leu tudo o que o médico não conseguiu estudar pelo grande volume de informações que são criadas diariamente. Assim, o profissional consegue se concentrar naquilo que é importante, neste caso, cuidar das pessoas.
Acredita-se que a civilização rumará para uma economia de ideias. A riqueza nesse novo mundo será a inovação e fato importante aqui é que precisaremos lidar de maneira diferente com esses sistemas. Antes que eles comecem a operar, teremos que ser capazes de embutir em sua essência os valores que são importantes e caros para toda a raça humana, para que compartilhem conosco os mesmos objetivos de evolução, progresso e bem-estar que o homem busca.
- José Luis Spagnuolo é diretor de Tecnologia da IBM Brasil