A chegada do Pix promete revolucionar os meios de pagamento no Brasil, sobretudo para a grande parcela desbancarizada da população que agora pode fazer pagamentos simplificados usando apenas um smartphone.
Mas a verdade é que essa transformação não aconteceu de um dia para o outro: a tecnologia já vem há tempos abrindo possibilidades para quem não está incluso nas instituições financeiras tradicionais.
Contexto financeiro
Segundo o Banco Central, há mais de 45 milhões de desbancarizados no país, movimentando mais de R$ 800 bilhões por fora dos bancos.
Com a pandemia de covid-19, o número sofreu uma redução por conta do pagamento do auxílio emergencial do governo pelo aplicativo da Caixa.
Porém, muito além disso, essas pessoas passaram a ser significativamente mais incluídas por conta da digitalização financeira.
As medidas de isolamento social aceleraram a popularização dos novos meios de pagamento, estimularam o comércio eletrônico e praticamente obrigaram quem baseava suas operações no papel moeda a encontrar uma alternativa — seja por uma questão sanitária ou pela adaptação para o consumo online.
Por outro lado, empresas de tecnologia que já focavam nessa parcela da população viram uma grande oportunidade de crescimento e buscaram novas formas de alcançar taxas melhores e condições mais simples de acesso para clientes tradicionalmente excluídos do sistema financeiro.
De acordo com uma pesquisa do fundo de venture capital Atlantico, dois dos principais motivos para desbancarização na América Latina são o alto custo dos serviços financeiros e a falta de documentação necessária.
Para complementar, as fintechs também investiram na confiança de parte dessas pessoas que, acostumadas com transações em dinheiro e pagamentos em agências bancárias, ainda têm certa resistência em acreditar na segurança das operações digitais.
Inserção dos desbancarizados
Agora, contas digitais simplificadas e carteiras eletrônicas permitem que praticamente qualquer pessoa consiga fazer seus pagamentos e compras online.
O próprio acesso a crédito já é disponibilizado em alguns serviços, cumprindo um papel importante na inserção dos desbancarizados no mercado e na economia do país.
Aqui no Asaas, focamos em ajudar autônomos e micro e pequenos empreendedores a receber e enviar dinheiro, oferecendo uma conta digital completa com gestão de cobranças, pagamentos, e até crédito por antecipação de recebíveis para quem não tem nome para abrir contas em bancos tradicionais.
Neste ano, passamos a atrair cerca de 5 mil clientes por mês, um número 2,5 vezes maior que antes da pandemia.
A verdade é que a tecnologia está permitindo, cada vez mais, uma democratização do sistema financeiro nacional.
A relevância dos grandes bancos já é menor e a competitividade do setor só cresce com os novos serviços bancários e de pagamentos integrados ao contexto da digitalização.
Não à toa, o Brasil foi apontado como o país mais inovador da América Latina na área de pagamentos por uma pesquisa recente da Americas Market Intelligence (AMI).
Até as grandes instituições tradicionais já veem a mudança e têm investido cada vez mais em fintechs para fazer parte do movimento de inovação — no último mês, o Asaas recebeu um aporte de R$ 37 milhões liderado pelo fundo de investimento Inovabra Ventures, do banco Bradesco.
Com o Pix, o cenário de revolução financeira será consolidado.
E quem ganhará com isso é a população que, desbancarizada ou não, poderá ter acesso a cada vez mais serviços de forma fácil, rápida e barata.
- Piero Contezini é CEO do Asaas