Transformação digital ainda não é enxergada como deveria ser

A transformação digital depende das pessoas / MTA New York City Transit
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A transformação digital depende das pessoas /  MTA New York City Transit
A transformação digital depende das pessoas / MTA New York City Transit

Estamos em um cenário em que as grandes empresas estão se esforçando para implementar iniciativas de transformação digital.

Um estudo da McKinsey, lançado em outubro de 2018 e denominado Unlocking success in digital transformations, aponta que oito de 10 empresas têm iniciativas de transformação digital, o que é um ótimo indicador.

O problema, porém, é que apesar deste número ser expressivo, apenas 30% dessas iniciativas têm tido sucesso efetivo na organização.

Por que isso acontece?

Um dos pontos é porque a maioria das iniciativas em transformação digital é vista como uma forma de cortar custos, com um mindset focado em utilizar a tecnologia apenas com este fim – para tornar a empresa mais competitiva.

O primeiro problema de utilizar a transformação apenas com esse objetivo é entender que cortar custos não é o pilar da transformação digital.

Ele pode vir a ser uma consequência, mas não deve ser tomado como o único motivo de implementação dessas ações.

Projetos aleatórios

Andrea Iorio, da L’Oréal / Divulgação

Segundo erro: a organização se dispõe a fazer experimentos picados de inovação internamente para ver o que acontece.

Iniciativas que não conversam entre si.

Não ter uma consistência e uma estratégia de transformação digital clara por meio da qual esses experimentos convirjam para o negócio é uma receita fadada ao fracasso.

Sozinhos, esses projetos aleatórios não farão com que a transformação digital aconteça magicamente em toda a empresa.

O terceiro jeito errado de encarar a transformação digital: a empresa decide criar uma equipe separada responsável pela inovação e/ou trabalhar com startups, por meio de joint ventures, processos de aceleração etc.

Com esse viés departamental, tanto a equipe quanto as startups não se integrarão ao ecossistema da organização e, consequentemente, não proporcionarão a transformação digital como a base que toda empresa hoje necessita.

Os três pontos acima são os principais problemas que grandes organizações enfrentam ao encararem os desafios de implementar iniciativas de transformação digital.

Porém, no meu ponto de vista, todas essas situações têm como pano de fundo uma virada de chave essencial: as empresas não podem tratar do assunto como tecnologia, apenas.

Transformar pessoas

Transformação digital tem a ver, principalmente, com pessoas. São as pessoas que têm o poder de transformar uma empresa.

E, é claro, que aí esbarramos em outro desafio, que é o expressivo número de colaboradores que as grandes organizações possuem.

Colocar todas as pessoas na mesma página não é fácil. Pensemos que estamos dirigindo uma bicicleta: é muito fácil mudar de direção.

É apenas uma pessoa envolvida. Agora, pense num veleiro: a mudança de direção requer o empenho e o trabalho em conjunto de um número maior de pessoas.

Agora, pense em um transatlântico e todos os esforços necessários para fazê-lo mudar de direção.

Uma grande empresa é como um transatlântico. Fazê-la mudar de direção, indo de uma cultura tradicional para uma baseada em transformação digital, vai ser muito mais desafiador porque a transformação digital tem que ser pensada de forma escalável – e isso está profundamente ligado a pessoas.

Primeiramente, as pessoas precisam serem evangelizadas, em seguida, engajadas e, por último, implementarem a estratégia.

Cultura e educação

E quais são as formas mais eficazes de se implementar uma cultura de transformação digital?

Bom, a resposta já está na pergunta retórica que acabei de fazer.

Cultura tem a ver com pessoas. Então, o primeiro passo é trabalhar com elas.

Promover incansavelmente educação por meio de treinamentos, palestras, iniciativas como hackathons, intercâmbio de ideias e práticas, pesquisas de mercado, estudos de caso etc.

Mas essas iniciativas não podem ser únicas como, por exemplo, a semana anual de inovação.

É necessário que seja um projeto único, constante e aplicável – prático.

Ou seja, testados com réguas internas de engajamento dos funcionários, implementação de fluxogramas funcionais e que promovam a fluidez das ideias e suas execuções. De forma contínua.

Mindset e agilidade

Paralelamente, é importante desenvolver a estratégia de transformação digital em quatro eixos:

  • Considerar a estratégia do negócio de tradicional para digital;
  • Rever operações e processo, e como o digital pode contribuir com eles;
  • Analisar o CRM e a maneira de engajamento com clientes;
  • Estrutura da organização como todo – metodologias de trabalho, de reuniões, de compartilhamento de informações, conteúdos e fluxos processuais.

Além disso, é preciso aprender a trabalhar como uma startup, para depois trabalhar com as startups.

Porque, de maneira geral, a diferença de mindset e de agilidade das startups é um cenário muito discrepante da realidade das grandes organizações.

As empresas tradicionais não estão preparadas para absorver, de pronto, soluções de prateleira que as startups estão acostumadas a lidar, porque estas já nasceram digitais, enquanto as empresas tradicionais precisam repensar toda a sua forma de fazer negócios, já que o digital não faz parte de seus DNAs.

E é uma questão de sobrevivência: ou você busca inovação ou você morre. Se não for feito isso, estas organizações virarão história, como Kodak, BlackBerry e outras.

Para concluir, acredito que os principais passos para as grandes organizações que querem abraçar os desafios da transformação digital são os seguintes:

  • Ter um entendimento de que educação digital é prioridade;
  • Implementar metodologias ágeis, com estruturas mais digitais de trabalho;
  • Crescimento potencial de investimento em novas tecnologias, como automação, robotização, inteligência artificial, realidade aumentada, internet das coisas e análise de dados – a maioria delas proporcionando personalização em grande escala de pontos de contato, aproveitamento de geração de dados a fim de aproveitá-los no próprio negócio.

Dessa forma, as grandes organizações terão maiores chances nos processos de transformação digital.

  • Andrea Iorio é Chief Digital Officer da Divisão de Produtos Profissionais da L’Oréal

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