Ontem (6/3), Mark Zuckerberg publicou um texto com o título “Uma visão focada em privacidade para redes sociais” (tradução do inglês).
Nele, o fundador e presidente do Facebook traça planos para o futuro, em que a praça pública da rede social dá lugar à sala de estar dos serviços de mensagens.
Na verdade, apesar do título, ele descreve um mundo pós-rede social, em que a maior parte das conversas é travada em pequenos grupos.
A New Yorker publicou hoje um cartum em que Zuckerberg diz: “O Facebook está mudando. De agora em diante, o compartilhamento é privado. Guerra é paz, liberdade é escravidão e ignorância é força”.
Realmente, o texto pode parecer um caso de duplipensar orwelliano, já que a grande fonte de receitas da rede social é a venda de anúncios com base nas informações pessoais de seus usuários.
Com serviços de mensagem criptografados ponta a ponta, como ficaria esse modelo de negócios?
Mudança de comportamento
Zuckerberg sabe melhor do que ninguém (com todos os dados gerados pelo Facebook, WhatsApp e Instagram), que o comportamento dos usuários tem mudado.
A confiança na rede social foi abalada por episódios como o caso Cambridge Analytica e as campanhas russas para influenciar as eleições nos Estados Unidos.
Apesar de os grandes números do Facebook continuarem ótimos, alguns indicadores revelam tendências preocupantes para o serviço.
Mesmo crescendo no mundo, o total de usuários ativos mensais nos Estados Unidos e Canadá manteve-se estável no ano passado.
Além disso, um estudo recente do Pew Research Center mostrou que jovens de 13 a 17 anos têm deixado de usar o Facebook nos EUA.
Somente 51% diziam usar a rede social, comparados a 71% da edição anterior da pesquisa, de 2015.
O Facebook ficou atrás do YouTube (85%), Instagram (72%) e do Snapchat (69%).
A crise de confiança do Facebook fez com que várias pessoas manifestassem o desejo de abandonar a rede. Ou de pelo menos usá-la menos.
No Brasil, o sentimento foi exacerbado pela polarização política durante as eleições presidenciais.
Serviços de mensagens
Em seu texto, Zuckerberg fala em integrar mensagens do Messenger, WhatsApp e Instagram, numa comunicação criptografada de ponta a ponta.
Dessa forma, o Facebook não poderia ser responsabilizado pelo conteúdo publicado pelo usuário, o que reduziria parte da pressão que recebe de governos e reguladores.
Por outro lado, ficaria mais difícil para a empresa vender publicidade destinada a determinados perfis de usuários.
Em entrevista à Wired, o fundador do Facebook concordou que não será tão fácil. Ele deu pistas sobre como pretende fazer dinheiro com o serviços integrados de mensagem:
“Mas a maneira básica pela qual fazemos as coisas é focar primeiro em construir o serviço que as pessoas realmente querem. Então focamos em fazer as pessoas interagirem organicamente com empresas, e depois em maneiras pagas para que as empresas possam crescer e conseguir mais distribuição.”
Mesmo dizendo que ainda acredita que na praça pública do Facebook, em que cada um publica para muitos, Zuckerberg mostra, em sua proposta de sala de estar, que o modelo atual está próximo de se esgotar.